quarta-feira, 5 de novembro de 2025

O sonho. Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 in O Carneiro Nº7/ Volume I Escrito em 19/10/2025 Todos os direitos reservados.

O sonho. Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 in O Carneiro Nº7/ Volume I Escrito em 19/10/2025 Todos os direitos reservados. Enquanto digito, inserem erros gramaticais, de formatação, movem arquivos, através do sistema, wi fi. Corrijo quando percebo. Erasmo deixou o chapéu, o óculos de grau, sobre a mesinha, ao lado do abajur. Começou a se despir. O telefone tocou, mas ele não olhou. Nas últimas semanas, o telefone tocava o dia inteiro. - "Como descobriram o meu número?" - Pensou Erasmo indo, nu e descalço, para o banheiro. Olhou para as toalhas, depois entrou no Box. Ligou o chuveiro. Deixou a água, inicialmente fria, depois morna até aquecer realmente, cair sobre o seu rosto, cabelos, corpo. Ficou de olhos fechados, imóvel, cabeça erguida, enquanto a água lavava o seu corpo, por três minutos. Pegou o sabonete no suporte da parede, tateando a mão, olhos ainda fechados, até encontrá-lo. Ensaboou as mãos, depois o peito, braços, costas, o resto do corpo. Colocou um pouco de xampu na palma da mão, levou até os cabelos... Eram castanhos escuros, começavam a cair. Esfregou, enxaguou, fechou a torneira do chuveiro. Puxou uma das toalhas de banho, enrolou-se nela, pondo o pé no tapete branco, felpudo. De frente para o armário da pia e o espelho, ficou parado, segurando a toalha, pensativo, observando o seu reflexo, até que começou a se enxugar lentamente. Refletia sobre os últimos acontecimentos. Por fim, começou a se enxugar vigorosamente, deixando a toalha sobre o mármore da pia. Passou o desodorante rapidamente, foi até o quarto, era uma suíte... Abriu o armário, foi reunindo peças de roupas, absorto, ausente. O telefone não parava de tocar... Às vezes, retirava o cabo, e tudo ficava em silêncio. Daria um telefonema assim que estivesse vestido, por isso não retirou o cabo. - "Por que não desistem?!..." - Pensou, sério. Já vestido, pegou a caderneta de telefone. Foi até a poltrona, ao lado de uma mesinha antiga, de madeira, aonde havia o telefone e o abajur. Sentou-se, acendeu o abajur. Começou a procurar o número do telefone da pessoa com a qual queria falar. Discou. Era aquele telefone antigo, você põe o dedo no espaço do número escolhido, um a um, gira...Faz o barulho reconfortante, conhecido. Erasmo gostava disso. Lembrava a sua infância. - Alô? - Vinícius? - Sim, sou eu. - Sou eu, Erasmo... - Erasmo! Estava esperando que você ligasse. Por que demorou? Não deram o recado? (Trecho) Erasmo respirou fundo, discreta e pesadamente. Foram segundos de silêncio e reflexão. - Só pude ligar agora. - Estão tentando falar contigo. Como não conseguem, ligam para cá. Eu não sei o que dizer!... O que devo dizer?... - Vinícius... Não quero falar com ninguém nesse momento. - Mas, você sabe como funciona, Erasmo! Você é a carne, eles têm fome!... - è por isso que eu não tenho saído ou atendido ao telefone. Quero ter tempo para pensar. - Mas... Você já aceitou, não? - Sim, aceitei. - Então, não há o que pensar! Erasmo, sabe o que significa? Você agora está no topo! É a consagração da sua carreira como escritor. - Eu já me sentia no topo, Vinícius. - O quê? - desde que minha obra passou a ser encenada. -Ah... - Minisséries, TV, teatro, citações em livros didáticos, revistas... Na boca do povo. - Mas, você entende que há mais, não? - Como assim? - Quando você achava que era o limite, o máximo que poderia chegar... Reconhecimento profissional, nacional, internacional, recebe o convite. Não é qualquer oportunidade! Não é para todos! Você sabe. Você agora é eterno, Erasmo! Parabéns! Aproveite! Desfrute! Deixe que todos falem com você. Permita que te encontrem, te admirem, digam isso para você... Perguntem o que desejam perguntar! É assim que funciona. - Vinícius, não estou confortável. Preciso de tempo para me acostumar. Mais tempo. - Tempo? Tempo, Erasmo?... - Sim. Sou assim. Devagar. Não sabia? Acho que eu sou um cara que traz a solidão, a calma, do sertão, dentro de mim... Estou na cidade, ando pelo asfalto, entre os prédios, carros... Mas, o sujeito tosco e quieto, vive dentro de mim, encolhido. Um menino, descalço, que só quer olhar para as árvores, flores, céu azul, tudo conhecido e bom. Você não entende! Não pode entender... Você tem esse sujeito, tosco, natural, dentro de você? saberia, se tivesse? Ele as vezes olha para mim e pergunta:" Quando vamos voltar a ser livres, Erasmo? Quero pisar na terra e correr, com meus pés descalços! Quero sentir o cheiro e o sol do sertão! Vamos, Erasmo!... Vamos!... Risos do outro lado do telefone. - Erasmo... Não diga essas coisas, escreva! - Isso eu não escrevo. - Por que não? - estou aprendendo ainda a ouvir. -O quê? - É coisa minha. - parece loucura!... - Só parece. - Mas... Do que tem receio, Erasmo? Eles te amam! - Eles dizem que amam? - eles não dizem, mostram! - Como? - Comprando, lendo, comentando, citando os seus livros. Assistindo, encenando... Estão adorando tudo o que você escreve. Lendo tudo sobre você, os seus personagens... Amam a sua obra! Amam você! - Eles amam? Não sei. - Como não sabe? Tem gente que faria tudo para estar onde você está. No topo! - Eu tive um sonho... - Um sonho? - Antes de aceitar. Assim que recebi o convite. - Que sonho? - Já falei contigo sobre isso. Você não lembra porque não presta atenção no que digo. - Conte. - Sonhei que morria. - Morria? - Depois de aceitar o convite. Por isso demorei tanto a aceitar. - Você sonhou... Por isso está assim?... - Risos. - Você é um cara estranho, Erasmo! Era só um sonho! - Não sei... - Eu não lembro dos meus sonhos. Ainda bem. - Eu tenho e lembro dos meus sonhos, sempre. Alguns se concretizam. - Você viverá muito! - Não sei... - Bom, já é terno, não?!... - Risos. - Você acha engraçado, porque não é com você! - Atenda aos telefonemas. Saia de casa. Fale com todos. - Vou pensar. - Não pense, Erasmo! Aproveite o momento. - Preciso desligar. - Desligue, mas não tire o cabo. Sei que faz isso. - Vou pensar. - Ai, ai, ai... Erasmo! Até logo... - Até logo? Adeus! - Pare com isso. Você agora é eterno! Uma semana depois, todos os jornais, telejornais, rádio, internet, davam a notícia da morte do escritor Erasmo Aquino Freitas. Vinícius abriu o jornal, preocupado ao ler a notícia. Estava na sala de estar com a esposa que fazia crochê, ao lado da filha de dez anos. - O que foi? - Indagou Iara, percebendo a expressão do marido. - Erasmo morreu!... - O quê? - E ele sonhou que morreria... --------------------------

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Para sempre irmãos. Por Adriana Janaína Poeta/ CPF.:01233034782/ in O Carneiro Nº8/ Volume I/ Escrito em 20/10/2025/ Todos os direitos reservados

Para sempre irmãos. Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 in O Carneiro Nº8/ Volume I Escrito em 20/10/2025 Todos os direitos reservado...