sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Os desmaios. Por Adriana Janaína Poeta CPF.: 01233034782 in: O Carneiro Nº09/ Volume I (Conto/ Ficção) Escrito em 01/10/2025 Todos os direitos reservados

Os desmaios. Por Adriana Janaína Poeta CPF.: 01233034782 in: O Carneiro Nº09/ Volume I (Conto/ Ficção) Escrito em 01/10/2025 Todos os direitos reservados Enquanto eu digito, invadem o sistema, Wi fi, inserem erros gramaticais, de formatação, movem arquivos. Corrijo quando percebo. Mariano acordou e olhou ao redor. Já era dia. O corpo estava dolorido, havia uma pressão na cabeça. Não lembrava de ter ido para cama... Levantou-se, foi para o banheiro da suíte. Era solteiro, sem filhos, tinha 53 anos. Morava em casa própria, em condomínio residencial. Escolheu o piso, os móveis da suíte que ocupava na casa, além dos móveis, decoração e reforma do resto da casa. Havia alguns itens e móveis de família, que pertenceram a mãe, advogada falecida nos anos 90, dos irmãos dele. Era uma casa ampla, com quintal, garagem, piscina, churrasqueira, jardim, antiga. Uma suíte, três quartos, tendo transformado um em sala de vídeo e TV, uma sala, cozinha, dois banheiros, área de serviço, pequena varanda. Há algum tempo conheceu na noite carioca, apresentadas por terceiros, conhecidos, uma mulher, Maiara, negra, cabelos curtos, alisados, magra, ombros curtos, estatura baixa, idosa, mãe de duas filhas, que estavam com ela. Maiara vestia-se como se tivesse na juventude rebelde. Roupas decotadas e justas, transparências, calças com rasgados e detalhes. Usava cordões, brincos, pulseiras, anéis chamativos. Gesticulava e falava muito, estava sempre sorrindo, aquele sorriso congelado, artificial. Gabava-se o tempo todo de conhecer artistas, empresários, e outras pessoas influentes, importantes. Oferecia o tempo as filhas, sem nenhuma cerimônia. Dizia que estava sempre nas grandes festas, frequentando os bastidores de programas de televisão, esportivos, shows, viajando, em especial para Milão, na Itália. Dizia já ter morado lá, se considerava italiana, e às vezes chamava uma das filhas empregando termos em italiano. Chamava a cidade italiana de: "mia Milão!" Exibiu, pelo celular, diversas fotos de suas viagens e com famosos, no Brasil, em festas, eventos, hotéis e praias no Rio de Janeiro. Parecia deslumbrada com o luxo, fama e riqueza. Com o tempo, Mariano descobriu, por terceiros, que Maiara nasceu e foi criada numa favela, a Serrinha, em Madureira, bairro da cidade do Rio de Janeiro. Teve uma filha com um chapeiro, depois dono de trailer na orla da Barra da Tijuca, RJ, a mais velha, que tinha um filho com um homem que estava preso, e o filho era criado pela mãe do pai detento, e ela, a filha mais velha visitava o filho. A outra filha, apaixonada e namorada de um segurança de Hotel de luxo na Barra da Tijuca, RJ, em frente à praia, estudante de publicidade, praticante de boxe, era fruto de um relacionamento que Maiara teve com um senhor, hoje casado, que morava em prédio em Copacabana, bairro da zona sul carioca. Anos depois, a filha mais velha deixou escapar para a irmã de Mariano, em visita com o marido a casa do irmão, que Maiara e a filha caçula, antes de atingir a maior idade, já que recebia pensão do pai, certa vez ameaçou a esposa do pai, em Copacabana, que teve que correr e se abrigar, para não apanhar das duas, porque elas queriam mais dinheiro, e o pai só pagava o estipulado na pensão. Maiara vivia de pequenos golpes, de intermediações e de encontros, onde também agia como facilitadora para terceiros, inclusive, conhecidos dela, estrangeiros. Isso Mariano só descobriu anos após ter conhecido Maiara e as filhas, através do primo da caçula, que na época atuava como corretor de imóveis com a namorada, comissária de bordo em uma companhia aérea, morador da Barra da Tijuca; um senhor negro, .alto, casado, que também dizia ser corretor de imóveis, mas depois havia indícios de que atuasse como agenciador de encontros, como Maiara. Estes estavam na mesa do local, um restaurante com música ao vivo, na orla carioca, onde Mariano estava. Mariano estava sendo atraído para uma armadilha, sem perceber. Maiara mostrou fotos das duas filhas, que segundo ela eram modelos, em viagens para Milão, desde a menor idade, com vários senhores, e também em fotos de moda praia e outros vestuários, para confecções. Maiara estava sempre falando sobre o samba, o pagode, as escolas de samba do bairro de Madureira, onde era assídua frequentadora. Falava das filhas como se fossem duas jóias preciosas que precisasse oferecer, para obter lucro ou simplesmente, ter o que dizer, além de amar Milão e suas viagens, estar entre os famosos, em festas, shows, hotéis, eventos e restaurantes badalados. Mariano fora bem criado era educado, trabalhador incansável, responsável, atencioso e protetor, carinhoso com os irmãos, todos órfãos dos pais, como ele. Sempre enxergava apenas qualidades nas pessoas, como sua mãe e seu irmão primogênito, sendo muitas vezes até ingênuo. Ajudava a todos que precisavam, de forma incansável, perdoava sempre. Era otimista, alegre, comunicativo, bem sucedido, feliz, antes de ser apresentado a todos os que estavam naquela mesa. Até mesmo quem apresentou Maiara, conheceu pouco tempo antes. Naquele momento da vida, morava com o irmão primogênito, que passava períodos com as irmãs, já casadas. Tinha uma vida estável, feliz. Maiara foi logo dizendo que queria atuar como corretora de imóveis, profissão de Mariano, que tinha feito curso e tinha documentos que comprovavam. Maiara disse que a filha caçula morava em um flat de luxo, alugado pelo namorado, segurança, para ela. Maiara e a filha mais velha ficavam nas casas de familiares e amigos, às vezes no flat da filha caçula. As duas filhas de Maiara, Helena e Heloísa, não possuíam nada que justificasse os grandes elogios de Maiara quanto à beleza das duas. Tinham estatura baixa, rostos comuns, pés desproporcionais, tortos, ombros curtos. A mais velha tinha cabelos castanhos, meio ondulados, morena clara, a caçula usava apliques, longos, lisos e negros, pele morena,um grande rabo de cavalo, bem cuidado. Eram jovens, apenas isso, sorridentes como a mãe. Mariano, naquela noite, apenas ouvia Maiara falar sobre as viagens, seus conhecimentos, sobre a beleza das filhas, as paixões que dizia que as duas despertavam por onde passavam, na Itália, em Milão, e no Rio de Janeiro, no Brasil. Na semana seguinte, Mariano não teve notícia das três, esquecendo por completo das três mulheres apresentadas naquela noite. Após um encontro de negócios, foi com outra corretora, que com ele trabalhava, uma senhora, para um restaurante, em um shopping carioca, para almoçar. Maiara aproximou-se, acompanhada das duas filhas, já sentando à mesa, sorridente e espalhafatosa. Depois disso, passaram a estar sempre, Maiara com uma ou com as duas filhas, nos locais onde Mariano estava, como se fosse coincidência, obra do acaso. Um dia, a filha caçula de Maiara, aparentando estar bêbada, apertou a campainha da casa de Mariano, que estava sozinho, assistindo um filme, era noite. Quando ele olhou pela janela da cozinha, de frente para os portões, na época gradeados, com visão para a calçada e rua do condomínio, viu Heloísa, com vestido justo e saltos, jóias, bolsa à tiracolo pequena e brilhante, sozinha. Imediatamente, embora não soubesse explicar o motivo, teve uma sensação ruim, e continuou observando, pela fresta da janela, na cozinha, com as luzes apagadas. Fora havia a iluminação da rua. Ao perceber que Mariano não iria atender, já que parecia ter certeza de que estava em casa, devido a insistência com que apertava a campainha e gritava o seu nome, mesmo sem que ele a tivesse intimidade com ela, ou a tivesse convidado, fornecido o endereço, Heloísa pulou sobre o capô do carro de Mariano, que este deixou estacionado na calçada, em frente a casa, e começou a imitar uma cabra, sapateando sobre o capô, como se fosse um animal enlouquecido... Pouco tempo depois, Maiara, chorando, implorou que Mariano deixasse ela e as duas filhas ficarem hospedadas nos quartos de hóspedes da casa, pois não tinham onde ficar. A filha caçula estava sendo despejada do flat, ela e a filha mais velha precisavam dar um tempo das casas dos familiares e amigos. Seria por pouco tempo. Chegou com as filhas, sacolas e mochilas, ventilador que retiraram do flat, sem autorização, chorando, desesperada. Mariano deixou, com a condição de ser temporário. Depois disso, ficavam indo e vindo, e a vida de Mariano, a casa, viraram de pernas para o ar. Teve várias perdas financeiras. Maiara vivia apresentando pessoas que causavam prejuízos a Mariano, negócios não davam certo, o dinheiro escasseava, o irmão primogênito adoeceu e morreu... Helena, a filha mais velha de Maiara, engravidou, casou e separou de um homem com ascendência árabe, que morava no Brasil, no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca. A filha era autista. Expulsa do apartamento pelo ex-marido, foi pedir abrigo com a filha e a babá da filha na casa de Mariano. Disse que seria temporário... Enquanto isso, nas visitas de Maiara a casa, postou uma foto, de biquíni, dentro da piscina da casa de Mariano, nas redes sociais, com a frase: "Em mia casa!" Helena amassava e usava as tampas metálicas do baleiro de vidro que Mariano comprou e deixou na sala, porque lembrava a sua infância, para usar como cinzeiro enquanto fumava, dentro do quarto de hóspedes, até que o baleiro ficou sem nenhuma tampa. Todas desapareceram. Foram sumindo, quebrando, danificando móveis, eletro/eletrônicos, utensílios, documentos, fotos, e Mariano ia repondo como podia, refém da situação. Sempre havia um problema, para que voltassem a pedir abrigo, fizeram cópias das chaves, traziam pessoas estranhas para casa, a vida de Mariano estava sempre repleta de perdas financeiras e problemas, que antes jamais existiram, tendo Maiara e as filhas apresentado investidores e clientes, que só eram problemas. As três revezavam, indo e vindo das casas de amigos, conhecidos e familiares delas. Heloísa, quando contrariada, chutava as portas de madeira da casa, retirando com os chutes as maçanetas, deixando as portas quebradas, sem ter como fechar com chaves. Jogava aparelhos de telefone ou o que estivesse nas mãos dentro da piscina ou contra a parede. Certa vez, postaram nas redes sociais, pouco antes de Heloísa ser desalojada do Flat de luxo na Barra da Tijuca, uma foto, as três, com taças de champagne nas mãos, erguidas, com a frase: "Ricas!" Pouco antes de Maiara implorar ficar por um tempo curto na casa de Mariano, alegando não ter onde ficar com as filhas. Além dos danos financeiros, o irmão que faleceu, a saúde de Mariano, antes saudável, forte, foi deteriorando. Começaram a surgir problemas de pressão, que ele nunca teve. Então, os desmaios. O coração falhando, a falta de ar, as alergias, os inchaços no corpo, pernas, pés, a insônia, a rinite alérgica. Mariano sempre cuidou da alimentação. Tomava sol, gostava de respirar o ar puro, correr, todos os dias, no condomínio, ir a academia, se exercitar, ir à praia, ficar na piscina da sua casa, nas horas vagas. Lia os jornais, assistia filmes, documentários, musicais, entrevistas. Lia livros, revistas. Visitava as irmãs, quando o irmão estava vivo, este morava com ele a maior parte do tempo. Eram muito amigos. Quando decorou a sala de vídeo, comprou vários bonecos e pelúcias da Disney, porque desde criança, amava tudo relacionado à Disney, para onde viajou duas vezes, na Flórida, Estados Unidos. As duas irmãs estavam preocupadas. Mariano havia ido ao médico e haviam recomendado que procurasse um cardiologista. --------------------------------------

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