domingo, 9 de novembro de 2025

A maçã. Por Adriana Janaína Poeta/ CPF.:01233034782 Conto/ Ficção/ In A Varanda/ Clube de Leitura dos Poetas/ Todos os direitos reservados

A maçã. Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 Conto/ Ficção In A Varanda Clube de Leitura dos Poetas Todos os direitos reservados. Cândida atendeu ao telefone celular que tocava insistente. Ouviu quando ainda estava tomando banho. O marido estava na cozinha, preparando sanduíches para o casal. Enrolada na toalha foi até o quarto. Sentou-se na cama, esticou o braço. O celular estava carregando a bateria, conectado à tomada, próximo ao Blue Ray. - Alô? - Por que demorou tanto para atender? - Indagou o irmão, Sóstenes, nervoso e preocupado. - Estava no banho. Luís está na cozinha, mais afastado, não dá para ouvir o toque do telefone. - Respondeu Cândida, calmamente. Sabia que havia acontecido algo pelo tom da voz do irmão. Ela e os irmãos sempre foram muito unidos. Sóstenes era o caçula dos filhos, o primogênito faleceu há alguns anos, uma grande tristeza e perda.Ela era a mais velha das filhas, e havia a caçula das filhas, Leila. Eram todos adultos, órfãos de pais, avós e tias falecidas. Cândida conheceu e casou com Luís, e Leila também era casada, tendo conhecido o marido meses antes de Cândida conhecer Luís. Cândida tinha 38 anos, quando conheceu Luís. Namoraram, noivaram, Luís pediu a mão de Cândida em casamento para os irmãos dela. Casou 10 dias antes de completar 39 anos. Sentiu- se em casa com Luís, desde o início. Era como se já se conhecessem. Os irmãos moravam juntos, nessa época. Luís sempre foi bom marido, amigo e cunhado. Tratava os irmãos dela como se fossem os seus irmãos. Era paciente, atencioso, carinhoso, prestativo com todos. Sóstenes era bom irmão, como Leila e o primogênito, Ezequiel. Sóstenes sempre socorria os irmãos, a Luís, quando era preciso. Ezequiel tinha a paciência de um santo, sendo bom ouvinte e conselheiro, como Luís. Seus irmãos, como Luís eram atenciosos, afetuosos, inteligentes, amáveis, sempre perdoando a todos, algumas vezes até ingênuos com as outras pessoas que conheciam. Leila conheceu e casou com Tássio, após a maioridade, sendo o seu primeiro namorado. Após a morte dos pais, ainda adolescente, retraiu-se. Formou-s e professora, conheceu Tássio, casou-se. Depois que os pais morreram, tornou-se mais frágil, emocional e fisicamente, embora fosse saudável, comunicativa. Cândida a levou para fazer vários check ups, sempre mostrando que estava tudo ok, apenas eventuais anemias, porque Leila vivia fazendo dietas severas, achando estar acima do peso ideal. Quando algo a desagradava ou decepcionava, refletia na sua saúde. O seu trabalho era exaustivo. Leila não costumava ouvir os conselhos de Cândida, principalmente depois que conheceu e casou-se com Tássio. Cândida, por sua vez, procurava interferir o mínimo possível, afinal a irmã já era adulta. Quando Leila a procurava para contar algo, e perguntava a sua opinião, dava, com cuidado. Era franca e direta, por isso Leila às vezes não gostava de ouvi-la, mas as suas análises estavam sempre coerentes. Não pressionava, não insistia, apenas dizia o que concluía, quando perguntavam. Não procurava para dizer, era procurada. Independente do que dizia, respeitava a decisões e o livre arbítrio dos irmãos. - Estou indo buscar você e Luís. - Disse Sóstenes. - Aconteceu alguma coisa? - Tássio ligou, há pouco. Leila chegou do trabalho sentindo-se mal. estou indo buscar você e Luís para irmos até lá. Quando eu chegar na garagem, ligo e vocês descem. Temos que levá-la ao Hospital, perto de nós. Ela pode ficar aí com vocês, eu a levo para casa, depois que estiver bem. Assim, você cuida dela, até ela melhorar. - Tudo bem. - Concordou Cândida. - Até logo. Cândida foi até a cozinha e avisou Luís. Voltou para o quarto, ligou para Leila. Depois que o telefone tocou várias vezes, Tássio atendeu. - Alô? - Tássio? O que houve com Leila? - Está passando muito mal. - O quê ela tem? Passe o telefone para ela, por favor... - Tá... Ela não quer atender. Já vomitou duas vezes. - Disse Tássio. Leila sempre vomitava quando estava nervosa, sob estresse, indisposta. Desde criança. - O quê ela disse que está sentindo? - Não sei. Chegou em casa, chorando, dizendo que estava passando mal, cansada. Foi deitar na cama. Levantou para ir ao banheiro vomitar duas vezes. - Tem refrigerante cola? Biscoito água e sal? Maçã... Tem maçã? Basta cortar ao meio e raspar com a colher de café. Faz bem para o estômago. - Não temos nada disso em casa. - Não tem? Faz um copo de soro caseiro. Água gelada, uma pitada de sal, uma colher de chá de açúcar. Mexa bem, até dissolver o sal e o açúcar. Peça a Leila que beba, aos poucos. Sóstenes, eu e Luís estamos indo para aí, buscá-la. Vamos levá-la ao hospital. Se quiser, venha também. Por favor, prepare uma bolsa com duas mudas de roupas, documento de identificação, sandálias, dela. - O quê? Roupas? - Sim, para passar um ou dois dias aqui, até melhorar. Peça que ela esteja pronta para ir ao hospital quando chegarmos. - Tá. - Não deve ser nada grave. Já teve essas indisposições antes. Está cansada, o trabalho dela é exaustivo, a viagem de ida e volta para casa também. - O quê Leila tem? - Perguntou Luís, quando Cândida desligou o telefone, preocupado, trazendo os sanduíches e suco de laranja. - Está indisposta. Acho. Vomitou quando chegou do trabalho, chorando. Disse a Tássio que não se sente bem. - E o refrigerante cola, que ela tem que sempre ter em casa? O biscoito água e sal? Maçã? - Indagou Luís. Conhecia os hábitos de todos os irmãos. Ele mesmo já tivera que socorrer Leila, algumas vezes, comprando e levando os itens até ela. Era o que a mãe, os irmãos de Leila faziam por ela, desde a infância, quando Leila estava indisposta. - Tássio disse que não tem em casa. Pedi para avisar Leila, deixar tudo pronto, fazer um copo com soro caseiro. Pouco tempo depois estavam na casa de Leila e Tássio, em outro município. Leila estava deitada na cama, chorando. - Leila, o quê você está sentindo? - Perguntou Cândida. - Dor!... - Que tipo de dor? Onde? - Muita dor!... Já vomitei três vezes... - Dor onde? Na cabeça? No corpo? No estômago?... - Dor de cabeça forte... Enxaqueca... Dor nas costas e nos ombros... - Disse Leila. Levantou-se, foi para o banheiro e vomitou novamente. Voltou do banheiro, andando lentamente. Ainda usava as roupas que usava no trabalho. Cândida notou que Leila levava as mãos ao peito, aos ombros, as costas, esfregava braços e ombros. - Ela tomou o soro? - Indagou Luís para Tássio. - Metade do copo. Vomitou em seguida. - Devíamos ter parado em algum lugar para comprar refrigerante cola, biscoito água e sal, maçãs... - Comentou Luís, pensativo. - Preparou a bolsa dela? - perguntou Cândida. - Faço isso agora. Esqueci... - Disse Tássio. - Não... - Gemeu Leila voltando para o banheiro. Não tinha mais o que vomitar. Estava parada, olhando para a privada, a tampa aberta, com a mão direita espalmada nos azulejos da parede. - O quê? - Indagou Cândida. Tássio foi preparar a bolsa de Leila. - Tássio, ponha o celular e o RG dela junto. Vai precisar do RG no Hospital. - Não precisa preparar a bolsa! - disse Leila, irritada. Puxou a descarga, mesmo não tendo vomitado. Passou as mãos pelos cabelos, presos num rabo de cavalo. Abriu a porta. - eu não vou. - Disse, pálida. - Leila, Sóstenes, eu, Luís, estamos aqui para levar você até o hospital. Depois, você e Tássio ficam em nosso apartamento, um ou dois dias, até você melhorar. Fica mais perto do Hospital. Compramos refrigerante cola, biscoitos água e sal, maçãs, no caminho. Quando você melhorar, Sóstenes traz vocês para casa. - Não. - Disse Leila, começando a chorar. Foi deitar na cama. Os três entreolharam-se. Tássio preparou uma bolsa para Leila, a mochila dele. Ficou olhando, para saber se iriam ou não até o Hospital. - Vamos, Leila. Calce os sapatos. Você diz o que sente para o médico, ele receita os remédios, compramos, você descansa e fica bem. Tássio irá junto. - Aqui é longe da casa de Sóstenes, do meu apartamento. Sóstenes tem compromissos, não pode vir a qualquer momento. Vamos, Leila. - Já preparei tudo. - Disse Tássio. - Calce os sapatos, Leila, por favor. - Pediu Cândida. Meia hora depois, estavam a caminho do Hospital. Era público, mas com excelente atendimento e instalações. Cândida preencheu a ficha com os dados de Leila. Sentaram na sala de espera. Vinte minutos depois, chamaram o nome de Leila. Cândida a acompanhou até a sala do atendimento. A médica devia ter 40 anos, cabelos louros, na altura dos ombros, olhos claros. Anotava algo, quando entraram na sala. - Feche a porta, por favor. Sentem-se. Já vou atender vocês. - Disse a médica. Terminou de fazer a anotação, guardou na gaveta da mesa, olhou para as duas, sorrindo. - Pode falar. - Minha irmã chegou em casa, do trabalho, com dores no corpo. Já vomitou quatro vezes. Desde criança vomita quando está indisposta, sob estresse. Mas, está com as dores no corpo e na cabeça. - Disse Cândida. Leila fez um gesto para que Cândida não dissesse mais nada. - Doutora, eu sinto muita dor!... - disse Leila, os olhos cheios de lágrimas. - Que tipo de dor? - Perguntou a médica. - Dor!... Muita dor... Dói muito... Que dor!... - Respondeu Leila, agarrada ao casaco que trazia nas mãos. - Doutora, Leila sente dores nas costas, peito, ombros, braços, cintura e na cabeça, pescoço, quadris. Está com enxaqueca forte, enjôo, cansaço. Sei por que observei. È professora, o trabalho é exaustivo. Vai precisar de um atestado para ficar em casa por alguns dias, descansando. - Disse Cândida. Leila abanou a cabeça. A doutora observava interessada e pensativa. - Então... Ela está com enxaqueca, enjôo... Essas dores... O exame de sangue está ok. Apenas uma anemia leve. Precisa melhorar a alimentação, tomar vitaminas. Sei o que você tem. Minha amiga sente o mesmo... Sofre disso há anos. È crônico. Precisa evitar as causas, tratar quando tiver as crises. Chama-se costacondrite. Você levou um tombo ou carregou peso esses dias? Isso aciona a crise. A enxaqueca causa o enjôo. Vou prescrever medicamentos, dar o atestado... Descanse. Não faça nada alguns dias, tome os medicamentos. - Costacondrite?... O quê é isso, doutora? - Uma inflamação muscular, afeta os ossos, porque provoca dor. Vou prescrever antiinflamatório, algo para o enjôo, a dor de cabeça, as dores, vitaminas... Vai tomar uma injeção aqui... Para que faça efeito mais rápido. Vai sentir-se melhor. O que vou prescrever para a dor, só pode comprar com receita médica. - Obrigada, doutora. Logo deixaram a sala. Foram à farmácia, a um mercado, depois Sóstenes deixou Tássio e Leila no apartamento de Luís e Cândida. No apartamento, Leila foi melhorando das dores. Cândida raspou uma maçã inteira, Luís encheu um copo com o refrigerante cola. - Você falou com a doutora, sem me deixar falar o que eu sentia... - Queixou-se, Leila. - Sempre que precisar falar sobre algo com alguém, descreva minuciosamente, com detalhes, sobretudo se é urgente, importante, como a saúde. A doutora não pode adivinhar o que você sente. Sem saber ao certo, não tem como prescrever corretamente. Se não puder falar, escreva, e mostre. Assim, poupa tempo. Eu observei, por isso disse o que percebi que você sentia. Sempre anote numa agenda ou caderno o que aconteceu, os remédios e recomendações, os sintomas. Agora sabe que tem costacondrite. Vai evitar as causas, sabe que precisa tomar antiinflamatório quando sentir isso. - Disse Cândida. Era o que ela fazia, e funcionava. Leila era mais emocional, era a sua forma de reagir a tudo. Cândida, mais racional. - A dor está passando. - Disse Leila enquanto comia as raspas da maçã. ---------------------------------

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