Clube de Leitura dos Poetas (Adriana Janaína Poeta) Publisher https://wwwfacebook.com/adrianajanainapoeta adrianajanainapoeta01233034782@gmail.com This Blog is owned and authored by Adriana Janaína Poeta, pseudonym of Adriana Janaína Alves de Oliveira / CPF. 01233034782. Brazilian, born in Rio de Janeiro. Without Whats APP. Writer, Composer, Journalist, Editor, Founder, (2004), and owner. Married to Marcelo Bernardo (de Oliveira), since 04/02/2010.
sábado, 25 de outubro de 2025
(Contos) O Sexto Andar Por Adriana Janaína Poeta / CPF.:01233034782/ Clube de Leitura dos Poetas Todos os direitos reservados.
(Contos)
O Sexto Andar
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.:01233034782
Clube de Leitura dos Poetas
Todos os direitos reservados.
José ajeitou a jaqueta de couro, preta, pegou a mochila, na moto, tirou o capacete, olhou ao redor...
A rua, moviventada, parecia o caos. ônibus, caminhões, motos, bicicletas, vários veículos... Pessoas... Muitas... Quantas pessoas! Parecia que todos, na cidade, decidiram andar nas ruas, naquela manhã de segunda-feira.
- Eu sempre gostei da segunda-feira! - Disse Tomé, riscando um fósforo de um hotel barato, para acender o seu cigarro. Sorriu, já com o cigarro na boca. Abanou o palito, pensou em jogá-lo no chão. O olhar reprovador de José, o impediu. Deixou esfriar e pôs no bolso, abanando a cabeça. - Sempre o bom moço, José!... - Disse Tomé, ficando ao seu lado. José levantou o dedo indicador, da mão direita, apontando, sem olhar, para o grande outdoor, que havia do outro lado da rua: Campanha nacional...Não jogue lixo nas ruas!..- Diabos, José!... É só um maldito palito de fósforo!...
- Tudo começa pequeno. - Comentou José. Estavam na esquina que interligava quatro ruas, movimentadas, no centro da cidade. Ficaram de frente para o prédio, antes às suas costas. Se entreolharam, pensativos.
- É aqui? - Indagou Tomé. - José...Eu preciso de um bom café da manhã. Peguei um ônibus interestadual, úmido, frio, cheirando a mofo!... Sabe que eu detesto mofo e janelas fechadas... Bom, foi o que eu ganhei, depois que você ligou para mim.
- Porque não tomou o café da manhâ, antes de pegar o ônibus?
- Eu funciono melhor à noite. O que acha de começarmos as 12h?
- Não.
- Por que?
- Ele fica mais forte à noite.
- Eles!...Eles, José! Você sabe, não andam sozinhos! Revesam, finger ser apenas um. Só os desavisados saem para obsediar sozinhos.
(Parte 1)
- Por quê? - Indagou José, distraído com seus pensamentos, olhando para o prédio, atentamente. Tomé o olhou, irônico.
- É chato! Chega uma hora que cansa... " Eu sou o demônio!'...Dizem. Ou: "Demônio!", repetem, feito insanos, chamando assim a quem desejam assustar, vencer, obsediar, enfraquecer, subjulgar. Perde a graça, faça o o que fizer a vítima, depois de algum tempo. E se há música, tocando, na rádio, aparelho de som, celular... Um desenho animado, um filme, na tv...No blue ray...José, tudo distrai esses caras!... Eu, que fico do lado de cá, fico entediado!... Imagine os que ardem seus Chi, na escuridão?... Os que pagam, com a vida eterna na luz, pelos prazeres menores e o passaporte, só de ida, para a escuridaõ, densa e escura, eternamente?...
- Tenho um pacote de biscoitos, água e sal, com gergelim torrado. Quer?
- O que isso muda? E o complemento?
- Que complemento?
- Eu preciso me alimentar bem! Gasto minha paciência, nisso! Preciso estar saciado, não? Ovos, bacon, aipim frito...
- Aipim frito? No café da manhã?...
- É o meu café da manhã! Iogurte de frutas vermelhas, suco de laranja ou tangerina, pão, queijo, presunto, requeijão...
- Enjôo, só de pensar!...
- José, nem todo mundo toma uma vitamina, e sai para desfilar!...
- Estamos perdendo tempo.
- Quem vai ser o bonzinho? - Indagou Tomé, após um longo suspiro, contrariado. - Não me olhe assim! Vou ser o perverso, hoje! Não tomei o café da manhã...
- Pode ser o perverso. Não sei se haverá bonzinho, hoje... - Disse José, e os dois foram caminhando, na direção da portaria do prédio.
- Aposto que não tem espaço para fumantes, na pocilga!... - Comentou Tomé. Apagou o cigarro, deixou na lixeira, junto com o palito apagado, que guardara no bolso
- Aproveite para meditar. - Disse José.
(Parte 2)
- José, nunca irrite um homem com fome!...
Entraram no prédio, José foi até o porteiro, que estava atrás do balcão.
- José Sabbatine e Tomé Zina.
- Qual andar, padres? - Indagou o porteiro, solícito. - Sou católico, também. Ainda bem que vocês vieram... Tenho medo de perguntar, embora saiba para qual andar vocês ed dirigem... É o Sexto, não é mesmo? - José assentiu, sério. - Padre... Cuidado.
- Por que diz isso? - Indagou Tomé, receoso.
- Dizem que o andar é mal assombrado.
- Como?
- À noite, quando o prédio está vazio, apenas a equipe mínima, segurança, limpeza...No andar... Parece que há pessoas, no sexto andar... Sombras... Se movimentando pelas escadas, corredores, salas...Depois, voltam para a portaria.
- E para a garagem? - Perguntou Tomé.
- Apenas da portaria para o sexto andar.
- Então... Temos fantasmas que gostam de usar os transportes públicos!... - Gracejou Tomé. - Bom! Modernos, urbanos... É melhor do que procurar vaga para estacionar...
- Não é engraçado, padre! - Disse o porteiro. Suas duas mãos tremiam. Trazia um crucifixo, de prata, no peito. Devia ter pouco mais de cinquenta anos.
- Porque suas mãos tremem? - Indagou José, sério.
- Há seis meses, não tremiam. - Respondeu o porteiro. - Foi quando comecei a trabalhar aqui... Evito ir ao sexto andar, mas as vezes, é preciso...
- O que funciona no sexto andar? - Indagou Tomé.
- Contabilidade e Psicologia.
- Tem gente, lá? Agora? - Penguntou Tomé.
- Tem, padre. Não preciso anunciá-los. sabem que os senhores passarão do dia e a noite aqui.
- A noite?... José?... Pensei que fosse só pela manhã... - Começou a dizer Tomé. José fez um gesto, para que se calasse, sem para de olhar para o porteiro.
- Qual o seu nome, filho?
- Antônio.
- Antônio... Tem a Bíblia?
- Tenho uma em casa, padre.
- Há uma bíblia na portaria?
Tomé abanou a cabeça, olhos arregalados.
(Parte 3)
- É isso que eu digo!- Exclamou Tomé, indo até o bebedouro gelado. - Um prédio desse porte, e não tem a maldita Bíblia!...
- Padre, Tomé!
- José...Você percebe? Estão doando Bíblias, por aí, como chaveiros, canetas, bonés!...E não tem um livro sagrado, um escudo contra o mal, a luxúria, a pervesidade, neste monte de aço e concreto, cheio de pecados!...- Tomé bebeu um pouco da água, no bebedouro.- Tem um cafezinho? Lamego? Sabe?...Aquelas roscas, deliciosas...
- Eu tenho café, na minha garrafa térmica...
- Não, Antônio! Padre Tomé está brincando. Guarde o seu café.
- Estou?...
- Antônio, vou deixar uma Bíblia. Deve ficar na portaria...Pode guardar dentro do balcão. Não é preciso que vejam, basta que esteja aqui.- Disse padre José.Abriu a mochila, e tirou dela uma Bíblia antiga. A capa tinha o título amarelado, dourado, gasto, as páginas manuseadas. - Esta Bíblia esteve comigo durante décadas. Acredita em milagres, Antônio?
- Acredito, padre. - Respondeu, Antônio, estendendo as mãos, para segurar a Bíblia. Padre José lançou um olhar rápido para Tomé.
- Droga!... - Murmurou Tomé. Entrou, lentamente, dentro do balcão, aonde estava o porteiro, de pé, olhando, fixamente, para a Bíblia, na mão esquerda do padre.
- Acredita em Deus, Antônio?
- Acredito, padre.
- Em Jesus, seu primogênito?
- Acredito, padre.
Do lado de dentro, atrás do balcão, Tomé investigava tudo, com os olhos, rapidamente. Parou os olhos, surprêso, nas direção das pernas de Antônio. Fez um sinal para José, sério. Fechou a portinhola, o trinco, pondo-se na frente, para impedir que Antônio fogisse.
(Parte 4)
- Sabe rezar o Pai Nosso? - Indagou, calmamente Tomé. Antônio virou-se, crispando os lábios. - Aonde foi para seus sapatos e calça, Antônio?...
Antônio, vestido com cuecas, samba canção, blusa social branca, gravata cinza, estava sem calças, sem meias, sem sapatos. Tinha lama nos pés. O verdadeiro porteiro, estava amarrado, perto do guarda volumes, amordaçado e chorando.
- Não devia ser tão enxerido, padre Tomé! - Berrou, Antônio, com olhos, cada vez, mais arregalados, lábios rasgados, no sorriso divertido, embora perverso. Ficou olhando para Tomé e José. A voz, agora, era diferente, mais aguda. Havia escárnio no tom que usava. Tirou a gravata, desabotoou a camisa. - Eu já estava meio cheio de bancar o bom católico!...
- Quem é você? - Indagou José, com voz firme.
- Importa, padre?
- Eu perguntei...Quem é você?
- Eu sou a filha da Chiquita, padre!...
- Quem é você?
-Podemos passar a manhã toda assim, padre!...
- Segure, Tomé! Segure!...
- Não! - Berrou Antônio, pulando, com apenas um salto, sobre o balcão de mármore negro, da portaria. Parecia acuado, mas ria, sacudindo a cabeça, os cabelos, ralos, ao redor da careca, balançando...
- Tomé!
- O pior sempre fica para mim!...- Reclamou Tomé, segurando Antônio, enquanto José o impedia de fogir.
- Vocês vão se ferrar, padres! Eu só estava brincando, hein?!...
(Parte 5)
- E agora? - Indagou Tomé, segurando Antônio, que se debatia.
- Pode entrar alguém... Leve o Antônio.
- Para onde? Não conheço o prédio!...
- Pegue o elevador. Vá para o sexto andar. Ao que tudo indica, é lá que ele mora.
- Inferno!- Exclamou Tomé, segurando Antônio, o arrastando, até o elevador de serviço.
- A minha casa, padre! O inferno!
- Cale a boca! José, não demore!... E o que vai fazer?
- Desamarrar o verdadeiro porteiro. Deixar a Bíblia, na portaria. Já o alcanço.
- Não demore, José!
Tomé era um homem alto, corpulento, desajeitado nos movimentos, como todos os que possuem altura acima da média. Era praticante de judô e boxe, portanto, ágil, forte. Antônio era sedentário, do tipo que só assiste tv, estatura baixa. Tomé sabia que Antônio era a vítima. O demônio apenas o usava.
(Parte 6)
- Padre, ainda não tomou o café da manhã?... Ah, ah, ah....Estão pagando pouco para os que usam batina?
- Cale a boca!
- Padre, vamos!... Eu pago o seu café da manhã! Deixa esse exorcismo para lá! Você tem mais o que fazer! José não saberá de nada!...
- Está tentando me comprar com um café da manhã, seu nada?! Acha que eu sou sua amante?...
- É cedo para almoçar, amor!...
Padre Tomé olhou para o teto, ainda segurando Antônio, impaciente. Chegaram ao sexto andar.
Enquanto isso, sentado na portaria, o homem tinha, nas mãos, o copo descartável, com café quente, que havia na garrafa térmica...
Padre Jose enrolou a corda, a mordaça, e deixou dentro do guarda volumes.
- O que houve? - Perguntou José.
- Essa coisa... O demônio!... Agora está com Antônio!...
- O que faz Antônio?
- Ele é o paciente.
- O paciente?
- Vem sempre para aconsulta, semanal, no sexto andar. Faz isso há meses.
- Sempre foi assim?
(Parte 7)
- Na semana passada... Quando subiu, parecia normal. Quando desceu, uma hora depois... Estava estranho.
- Como?
- Para começar... Subiu calçado, desceu descalço.
- Descalço?
- Sem sapatos, sem meias.
- O que mais?
- Sempre foi simpático. Dessa vez, eu disse: Até logo!... Ele rosnou...
- Rosnou?
- Grrrrrrrrr....
- Rosnou para você.
- Não é estranho?... Então, esta manhã... Eram seis horas... A portaria só abre as oito...Mas, como ele é paciente, visitante, antigo...Abri a porta. Ele veio até mim...
- Sem calça, descalço e sem as meias?...
- Não reparei, na hora. Estava distraído, separando a correspondência...
(Parte 8)
- E depois?
- Veio na minha direção... Parecia um bicho! Não gente!...Fiquei sem reação, tentei fugir!... Ele me agarrou, amarrou, amordaçou! Fiquei assim, padre! Ainda bem que chegaram...
- Vou subir. Você está bem?
- Estou.
- Acha que pode controlar a portaria?
- Sim.
- Ele te machucou?
- Apenas alguns arranhões.
- Quer ir ao médico? Posso chamar a ambulância...
- Não.
Padre José foi até o elevador...
(Parte 9)
- Tem uma sala reservada? - Perguntou Tomé, entrando na recepção do escritório de contabilidade.Um secretário, sem reação, ficou com o telefone na mão, olhando para Antônio, que se debatia, sem as calças, meias e sapatos. Duas clientes, aguardavam, sentadas, em poltronas deferentes. Ficaram assustadas.
- Padre! Vamos embora! Me deixe ir, padre!... Padre!... - Berrava Antônio.
- Sou o padre Tomé! Vocês chamaram1 Tem uma sala reservada? Preciso deixar o demônio confortável, se é que me entende?!...- Insistiu Tomé, impaciente.
- João, abre logo isso! Deixe o padre levar o demônio para a cozinha! - Orientou Maricota, contadora e administradora, sócia do escritório de contabilidade. João abriu a porta, automática. Tomé entrou, arrastando Antônio.
- Para onde? A cozinha, essa hora, é uma excelente ideia! - Disse Antônio, sorridente. - Se me oferecerem um café da manhã, abençôo todos vocês, depois. O que tem lá, de bom, hein?...
- A cozinha fica no final do corredor, padre.
- Ok! Vamos, demônio!...
(Parte 10)
- Bom dia. Cadê o padre Tomé e o demônio? - Indagou padre José.
- João abriu a porta.
- No final do corredor, padre.
- O padre Tomé pediu para ficar na cozinha?
- É o único lugar disponível, padre.
- Tem facas?
- Tem...
José foi andando, apressado. Encontrou Antônio, amarrado, preso a uma das colunas da cozinha, com parte de um pano de prato na boca. Tomé, sentado, à mesa, comia dois mistos quentes, e tinha uma xícara de café. Maricota contava sobre sua família, mostrava as fotos das filhas, marido, pets.
- Padre Tomé... Não sei se a cozinha é o melhor lugar...
- Sente-se, padre! Coma um misto quente, beba café... O demônio espera. Está bem quietinho, vê? Precisei improvisar. Este aí rosna! Acho que pensa que é cachorro... Sei lá!...
(Parte 11)
Padre José sentou-se. Maricota foi preparar dois mistos, serviu café para o padre. Parecia feliz, por tê-los ali.
- Ele é paciente. - Disse José.
- Você acha? Ele é bem nervoso!... - Disse Tomé.
- Paciente do consultório ao lado, de psicologia, padre...
- Ah! - Fez Tomé. Virou-se para olhar, de frente, para Antônio. Voltou a devorar o último misto. - Por essa eu não esperava...
- Vamos levá-lo para a sala ao lado. Não é bom ficar na cozinha.
- Por quê?
- Tomé!... Há facas, garfos, frigideiras... Armas, Tomé! Vamos evitar.
Tomé deu de ombros.
- Agora que tomei meu desjejum, posso dançar e cantar!...
(Parte 12)
Depois de quinze minutos, estavam na recepção da sala ao lado.
- Tem um lugar reservado, para dois padres cuidarem de um demônio? - Indagou Tomé, assim que entraram.
- Padre Tomé!... Desculpe o padre Tomé, senhorita...?
- Elba... - Respondeu Elba, os olhos castanhos, inocentes, assustados. Era muito jovem, bonita, e ficou visivelmente surprêsa. Antônio, ela conhecia. Era paciente, há seis meses visitando o consultório.
- Sr. Antônio?... O que houve?
- Esse aqui ainda não é o Antônio... E é! Entende? Qual o seu nome? Ando meio surdo... - Indagou Tomé.
- Elba. Vou perguntar para a doutora Eduarda...
- Não dá tempo, srta. Elba!... - Disse padre Tomé, arrastando Antônio, atravessando a primeira porta que encontrou.
(Parte 13)
-- O que é isso?... - Indagou a Dra. Eduarda, levantando da cadeira. A paciente, uma senhora roliça, que usava um vestido floral, vermelho, e uma minúscula bolsa pink, de vinil, combinando com os saltos altos, encolheu-se na poltrona, assustada.
- É melhor sair, senhora! - pediu padre Tomé. - O demônio não está para fazer amigos!...
- Sou o padre José. Este é o padre Tomé.
- E eu sou Antônio, doutora! Me ajude! Estes são dois loucos! Acham que eu sou o demônio!... Tiraram meus sapatos, meias, calça!... - Disse Antônio, choramingando. - Me ajude!
- Não acredite em uma palavra, doutora! O demônio sempre mente! - Disse Tomé. - Vá, senhora da bolsa e sapatos pink!
A senhora levantou-se, deixando a sala, desesperada, correndo, Bateu a porta.
- Este é o meu paciente!...
- Não é mais. Estava assim, seminu, fingindo ser o porteiro. Ligue para a portaria, se quiser. O coitado do porteiro, estava amarrado, desde as seis horas da manhã. - Disse Tomé.
- Verdade?...
- Precisamos da sala, Dra! Não podemos perder tempo!...
(Parte 14)
- O que vão fazer? - Perguntou a Dra. Eduarda. Padre Tomé olhou para José, José olhou para Tomé, depois os dois olharam para a Dra. Eduarda, sérios:
- Conversar! - Responderam, ao mesmo tempo.
- Vá tomar um café, comer um misto quente, na sala ao lado, Dra!... Leve a srta. Elba! Parece magra demais. Precisa se alimentar... - Disse Tomé. Padre José apontou com as duas mãos para a porta, sorrindo. Dra. Eduarda pegou o celular, a bolsa, e saiu da sala, pensativa, mas obediente. Antônio ainda olhava para aporta, choramingando.
- Eu pago as consultas em dia! Para quê? Ela nem se preocupou comigo!...Vocês viram?... - Berrou o demônio.
- Amarre o demônio! Na poltrona, Tomé!... - Gritou padre José. Retirou a corda da mochila...
- Na poltrona? Melhor na cadeira!...
- Eu prefiro a poltrona... - Disse o demônio.
- Você não prefere nada!
- Tá bom! Que coisa!....
(Parte 15)
- Então, quem é você? - Foi logo perguntando padre José. Antônio, sentado e amarrado na poltrona, ainda tentava se desvencilhar das amarras.
- Eu sou...
- Se você disser: Antônio!... A coisa vai esquentar!... - Alertou padre Tomé.
- Quem é você?
- Responda! Temos o dia todo!
- Quem é você?
- Melhor perguntar, quem são, padre José. - Disse Tomé, baixinho.
- O quê?
- Você sabe que é raro essa gente se projetar sozinhos...
- Padre, deixe eu fazer do meu jeito?!...
- Só estou tentando ajudar. Se perguntar quem são, podemos pular etapas.
- Padre!
- Ok! Vá em frente!...
(Parte 16)
- Quem é você?
- Padre, eu não vou entregar o meu nome, né?!... Nem os nomes dos meus amigos!...
- Como? É claro que vai!...
- Então, tem mais de um mequetrefe contigo?!...
- Somos muitos!...
- Não vem com esse papo! Devem ser quantos, José? Dez ou meia dúzia?
- Talvez, doze.
- Pela cara desse aí, devem ser bem "chinfrim"...Sem eira, nem beira!...
- Eu acho, também!
- E que coisa é essa, meia nudez? - Debochou Tomé, rindo. José não conseguiu conter o riso, também. Abriu a mochila, tirou uma Bíblia, novinha em folha, ainda na embalagem, água benta, estola...- E esses pés imundos? Veio de onde? Da fazenda? Pisou aonde, hein?...
- Acho que o nome dele é Pé de Lama!...Padre Tomé, esse é o nome dele!
- Pé de Lama? É esse o seu nome?
(Parte 17)
- E tem mais... Acho que está sozinho.
- Eu acho também...
- Parem de falar como se eu não estivesse aqui! Já disse! Somos muitos!
- Você leu ou ouviu isso, aonde, demônio? Assistindo filmes de terror? Lendo gibis? Livros de terror?
- Não sei do que está falando!...
- Não sabe, hein?!...
- Padre, Tomé!... Acho que ele quer tomar um ar fresco...
- Um ar? Não sei. Acho melhor levá-lo até os andares mais altos. É mais fresquinho!...
- O quê? Vocês são padres!... Não podem fazer isso!...
- Que tal uma aventura, hein?
- Não quero!
- Ah! O que é isso?...
- Eu prefiro ir embora!...
- Ah, mas você vai! Não nesse corpo!... - Disse padre José, aspergindo a água benta sobre Antônio. - O que é isso? Não gosta de água benta e vinagre?
- Vinagre? - Cochichou Tomé.
- É a novidade. Funciona mais rápido. O vinagre purifica, elimina germes, bactérias, fungos...
- É?...
- O mundo anda precisando de vinagre e água benta. Mais eficaz.
- OK!
(Parte 18)
- Eu quero que vocês se ferrem, padres! Odeio esse cheiro de vinagre! Odeio a água benta! Odeio vocês!
- Ah, é mesmo? Jogue mais vinagre e água benta, José!...
- Pare! Pare!
- Quem começa?
- A ler?
- Sim.
- Não trouxe os meus óculos. Você lê, eu repito.
- Não trouxe os óculos?
- Não tomei o meu café da manhã!
- E os mistos?
- Isso foi depois!
- Ei, vocês dois! Ainda estou aqui!
- Querem sempre o palco, José!
- Não esperam! Reparou?
- Eu começo.
- Eu repito.
-E eu enlouqueço com essa ladainha chata! Me poupe!...
(Parte 19)
- Quem é você?
- Eu não vou dizer!
- Deixe esse homem!
- Nem é um corpo tão bom assim!... - Cochichou padre Tomé.
- Padre! Assim, perco a concentração!...
- Ok! Eu não sei o que esse povo pensa! Estão obsediando qualquer um! Não faz sentido!...
- É a pressa! - Berrou o demônio.
- A pressa?
- Sim!
- Por quê? Vão tirar férias? - Perguntou, Tomé. José abaixou a cabeça.
- O fim do mundo está próximo!
- É mesmo?
- Temos que levar o máximo de pessoas!
- Para onde?
- Para o abismo!
- Ah!... O abismo, José!...
(Parte 20)
- O abismo!- Repetiu o demônio.
- E vocês podem levar alguém?
- Muitos!
- Por quê?
- Para quê?
- Por que não vão sozinhos?
- Se é bom, não leve ninguém!
- É verdade...
- Parem com isso! Vamos levar o máximo! Esses incapazes de resistir!... Esses fáceis de enganar!... Ah, ah, ah!...Como é fácil! Grite ou elogie! Estude, depois ataque! Use, depois descarte!Se aproxime, deixe sozinho!... É mais fácil destruir assim!...
(Parte 21)
- E vocês, tem esse trabalho todo, só para levar as pessoas para o abismo? Para quê?
- Por quê?
- É melhor ir sozinho.
- Se acham bom!...
- Para quê levar mais gente?
- Acho que estão s esentindo solitários.
- Coitadinhos!.... Quase fico com pena!
- Deixe o Antônio, demônio!
- Pare de apontar essa cruz para mim, padre!
- Deixe Antônio!
- Não!
- Nem é um corpo tão bom assim, para você sussurrar ao ouvido!- Disse padre Tomé. Rapidamente, passou generosa camada de azeite, extravirgem, abençoado, nas orelhas e pescoço, testa, de Antônio, que se debatia.
(Parte 22)
- Cheiro de azeite extra virgem, Tomé...
- Gostou? Tinha acabado o que você levou para mim... Peguei o azeite, na cozinha,abençoei.
- Bom.
- Vocês são uns m...! - Gritou Tomé. - Vocês não são ninguém! Querem um tour no Abismo? Vão sozinhos, seus b...!
- Padre, acho que esses termos...
- José! Deixe eu fazer do meu jeito!
- Ok!...
- Eu não tenho medo de vocês! José e Tomé, não tem medo de vocês! Vocês estão gastando os seus chi, seus m...!
- O quê? Chi?... Ah! Ah! Ah!...
- Ria! Pode rir! É a energia vital, demônio! Cada ser vivo tem, é como um aimpressão digital, DNA. Não tem como pegar emprestado, comprar mais, duplicar!... Cada ser vivo, nasce com uma cota, individual!...É o que vocês estão gastando, para se projetar! Fingindo que estão dentro do corpo, ou da mente das pessoas! As vítimas1 Não sou tolo! José não é tolo! Sabemos o que fazem, como mentem!
(Parte 23)
- Estão fingindo ser quem? O quê?
- Belzebu?
- É esse que vocês querem fingir ser? É o preferido, por aí, não?... "Eu sou Belzebu!"
- Vai voar, mosquinha? Vai?...
- Não deboche tanto, padres!
- Tomé, ele tem razão. Está me distraindo.
- Ok!
- Mas... É o que fazem....
- Estão fantasiados do que, seus m...? Atrapalhando a vida de Antônio!...
- E do prédio!
- E do prédio!
- De quem trabalha aqui!
- De quem trabalha aqui!
- Dos clientes e dos pacientes!
- Padre, é melhor apenas um de nós falar!...
- Você acha?
- É! Não sou surdo!
(Parte 24)
- Cale a boca, demônio! Quem você finge ser? Diga?!...
- Não digo!...
Duas horas depois, José e Tomé, foram até o banheiro.
- Precisamos de mais água!
- Você abençoou?
- Claro!
- Que sujeitinho resistente!...
- Bom... Temos o dia todo!...
- Quero saber quem são... Mas....Se apenas se retirarem, está bom. Abençoamos Antônio, as salas, a portaria...
- Não abençoou a portaria, José?
- Não tive tempo! Deixei a Bíblia, acalmei o porteiro... Você precisava da minha ajuda...
- Sabe quanto tempo vai demorar isso? Todas as salas, andares, o estacionamento... E ainda tem esse aí!...
- Antônio, padre.
- Não falo de Antônio. esse ou esses aí! Os que estão fazendo viagens astrais, projeções mentais, para obsediar Antõnio!
- Depois de livrarmos Antônio, deles, precisamos explicar o qu eaconteceu, como agem.
- Tem o rosário?
- Não trouxe.
- Então, vou dar o cordão com o crucifixo. Estava guardando para uma ocasião especial.
- Ele está usando um.
- Não está mais.
- Não?
- Aquele era do porteiro. Disse que colocou no pescoço, quando soube que viríamos. Para tentar nos enganar. Jogou pela janela...Não tive tempo de impedir.
(Parte 25)
- Alguém está pagando para eles fazerem isso, ou estão fazendo só por esporte.
- Como são burros!
- Gastando energia! Quando precisarem, não terão. Adoecem, sofrem um acidente... Cadê a reserva do Chi? Gastaram, nisso!
- Padre, vamos fazer a pausa para o almoço.
- Tomé!...
- Com fome, não dá!...
- Padre!...
- Vamos ajudar Antônio. Fazemos uma pausa.
- Pedimos para entregar.
- Podemos?
- Claro!
- Faremos isso.
- Antônio está cansado.
- E os pés? Cheios de lama!...
- Eu vi. Coisa estranha!...
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