quinta-feira, 25 de abril de 2019

Não faz Sol em Dó-Ré-Mi por Adriana Janaína Poeta/ CPF.: 01233034782/ in 50 Contos/ Clube de Leitura dos Poetas/ 04.12.2018.

Era um país como tantos outros, mas esse era diferente.
Anos do ensaio para ditadura partidária, deixaram as Instituições frágeis, distantes da realidade dos seus cidadãos.
A alta dos preços nos supermercados, o fechamento de restaurantes e farmácias populares, escolas públicas, o sucateamento de hospitais, por conta da má gerência e altos salários e aposentadorias da classe privilegiada, a maioria integrante do Trinário dominante, deixaram a população de cabelos em pé e barrigas vazias...
Além da crise econômica, embora houvesse muito dinheiro, havia acrise política, ideológica e moral em Dó-Ré-Mi.
Era um país privilegiado, não apenas nas suas dimensões, mas também nas suas riquezas minerais, possibilidades agrícolas.
Havia vastos recursos hídricos, criatividade, garra, coragem, esperança, em Dó-Ré-Mi, já que, por conta dos desvarios nos gastos públicos, e condescendente solidariedade dos integrantes do Trinário, responsáveis pela administração e ordem no país, o sol não brilhava mais.
Você acordava, calçava os chinelos, esticava os braços, bocejava, olhos apertados. Caminhava até a janela, abria e puf...
- Cadê o sol?...
É. Não havia mais sol em Dó-Ré-Mi, apenas alguma coisa que preenchia o dia até a noite.
No meio deste marasmo peculiar, na grande nação, houve eleições. Nelas, houve o prelúdio do que poderá ser o retorno do sol nas manhãs e tardes de Dó-Ré-Mi, porque mudanças estavam sendo desenhadas no regime Trinário, que abraçara, com mão de ferro, o país.
Entretanto, nesta janela que existe entre o pleito e a troca de cadeiras, o povo continuava respirando, com dificuldades.
Ainda acordavam, abriam as janelas, calçavam os chinelos, esperavam o sol brilhar no horizonte.Ainda trabalhavam, estudavam, sacudiam dentro dos trens e ônibus. Comiam o pão com manteiga e bebiam a média no boteco.
Os mais abastados, ficaram irritados no trânsito caótico das grandes cidades. Tamborilavam seus dedos nos painéis, onde os ponteiros eram cuidadosamente observados, já que os preços dos combustíveis estavam lá no espaço, disputando a órbita com os satélites.
Naquele dia, Fá, de terno e gravata, pasta de couro, caneta no bolso, olhos recém amanhecidos, entrou no vagão do metrô, distraído.
Sentou-se no meio. Ajeitou a gravata, pigarreou baixinho, mão nos lábios.
Aos poucos, todos os passageiros se acomodaram. Os bancos foram preenchidos. alguns cochilavam, outros, olhavam para o nada, olhares vazios.
Ao lado de Fá, um jovem balançava aperna direita e a cabeça, com o fone no ouvido. Ouvia música, esse vinho perfeito, combustível que mantém acesa a chama da esperança.
Fá, sentado e quieto, pasta no colo, amassando levemente o terno passado, olhou, acuradamente, ao redor...
No assento à frente, lateral, coluna oposta, um representante ilustre do Trinário, que, décadas atrás, foi motivo de orgulho para a população, nos últimos anos, em decorrência de inúmeros fatores e decisões, era uma lástima nacional.
Sobre o fato, cochichavam, esbravejavam, arrancavam os cachos dos cocurucos das cabeças o povo de Dó-Ré-Mi...
Na curva da esquina, onde a população se encontrava, esperando o ano novo e a posse do recém eleito, líder máximo da nação, o povo parecia um motoqueiro com a embreagem na mão. Desejava acelera, pular as preliminares. Queria sol.
Voltando a narrativa, Fá identificou a personagem que desempenhava um papel relevante no Trinário dominante.
Cabelos alvos, bem vestido, também segurava nas mãos uma pasta, aberta, com algumas páginas que estudava, atentamente.
Embora fosse um homem respeitável, ocupando, notória e sabidamente , uma função e cargo elevado, com uma trajetória brilhante, modos educados, culto, amante das letras, fala mansa, fazia parte do Trinário, e na situação caótica que o país atravessava, era o bastante...
Foi crescendo dentro de Fá, um ímpeto estranho...
Começou com o formigamento nos pés, depois, o tremor nas pernas, ultrapassando os joelhos.
O coração não batia ritmado como antes, era um pandeiro louco, desvairado e tonto, como um trem desgovernado...
Fá coçou a cabeça, mãos trêmulas. Olhou ao redor, as portas fechadas, sentindo a composição em movimento...
Desafroxou a gravata, desabotoou um botão, do colarinho. Pigarreou, dessa vez alto.
- Valha-me Deus... - Pensou, aflito. Voltou a olhar o integrante do Trinário, absorvido pela leitura das páginas sobre a pasta de couro.
Um filme passou na mente de Fá. Não era uma película fácil de recordar.
Fá era do povo. Acordava, abria as janelas todas as manhãs, esperando ver o sol. Mas, não via.
- Senhor!...- Chamou Fá, quebrando o silêncio, apenas perturbado pela música ruidosa e metálica dos vagões em movimento, com a iluminação diminuindo, de vez em quando.
Imediatamente, todos o olharam. Agora, Fá suava...
Era um suor frio, embora sua mente estivesse lúcida, sem temor. Os seus olhos estavam cravados no senhor ilustre, elegante, integrante do Trinário. Ele percebeu, sustentando o olhar, entre o curiosos e o apreensivo.
- Senhor, o Trinário de Dó-Ré-Mi é uma vergonha! - Gritou, como vomitasse algo que, há muito, ruminasse no seu estômago...
Que alívio! O suor frio deu lugar a um calor excessivo. Quis tirar o paletó, a gravata, dobrar as mangas, mas uma tensão pairava no ar, e o impedia de qualquer gesto. - O Trinário é uma vergonha. - Repetiu.
- O que o senhor disse? - Perguntou o outro senhor, ofendido.
E Fá, mais uma vez, repetiu a frase, sentindo-se como um leão que vocifera. Livre. - Pois eu vou chamar a Polícia, para que o senhor se acalme...
E Fá, apenas repetia, insistindo naquela frase. Cada vez que o fazia, sentia um alívio orgásmico tomar conta da sua alma.
-O Trinário é uma vergonha nacional. - Era o seu brado heroico.
Ao redor, todos os demais, calados, quase não se moviam. Principalmente, depois que o representante do Trinário disse que chamaria a Polícia para prender Fá, cidadão heroico, mas atrevido, linguarudo, que ousou dizer o que todos pensavam, mas não tinham coragem de dizer em voz alta.
Fá não se intimidava. Tinha o direito de ter uma opinião e externá-la. Ora, bolas!...
Não premeditou a situação. Não despertou engendrando aquele encontro e desfecho. Não levou ovos ou tomate para a composição. Não amassou uma folhinha do seu bloco para acertar o senhor ilustre, como fazem as crianças, na escola, selvagens, insatisfeitas.
Mas, a frase dançava na sua mente, como um mantra libertador. Era a sua catarse. Não abriria mão dela, apesar das ameaças do douto senhor, visivelmente constrangido.
Talvez, em outro momento, se calasse. Quem sabe?
Poderia esbarrar com o senhor, outro dia, num restaurante, teatro, cinema, se se conter. No seu íntimo, sabia que era direito da autoridade, como qualquer ser humano e cidadão, andar por aí, de metrô ou outro meio de transporte, apé ou não, livre, como qualquer um na multidão, apesar do cargo que ocupava. Mas, Fá, naquela manhã, acordara esquerdo com o´pé direito...
Era o céu sem o sol, era o vento alísio... Não sabia ao certo.
Por fim, ao descer da Composição, dois policiais o esperavam.
Levado, pernas balançando, Fá não se arrependia do desabafo, mas se retratou, depois de ouvido. Foi liberado.
(Não faz Sol em Dó-Ré-Mi por Adriana Janaína Poeta/ CPF.: 01233034782/ in 50 Contos/ Clube de Leitura dos Poetas/ 04.12.2018)
Adriana Janaína Poeta (Pseudônimo de Adriana Janaína Alves de Oliveira). CPF.: 012330-347.82. Data de Nascimento: 14/02/1971. Jornalista, Escritora, Editora, Criadora e Fundadora (2004) e Proprietária do Clube de Leitura dos Poetas
Casada com Marcelo Bernardo ( de Oliveira), desde 04/02/2010. Editor, Escritor, Fotógrafo, Web Designer.
Rua Goitacazes, 162, São Francisco, Niterói, RJ/ Brasil. Cep.: 24.360-350/ Tel.:(21) 2613-0896/ Sem Whats App.
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