(Contos)
O Sexto Andar
Por Adriana Janaína Poeta
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José ajeitou a jaqueta de couro, preta, pegou a mochila, na moto, tirou o capacete, olhou ao redor...
A rua, moviventada, parecia o caos. ônibus, caminhões, motos, bicicletas, vários veículos... Pessoas... Muitas... Quantas pessoas! Paraceia que todos, na cidade, decidiram andar nas ruas, naquela manhã de segunda-feira.
- Eu sempre gostei da segunda-feira! - Disse Tomé, riscando um fósforo de um hotel barato, para acender o seu cigarro. Sorriu, já com o cigarro na boca. Abanou o palito, pensou em jogá-lo no chão. O olhar reprovador de José, o impediu. Deixou esfriar e pôs no bolso, abanando a cabeça. - Sempre o bom moço, José!... - Disse Tomé, ficando ao seu lado. José levantou o dedo indicador, da mão direita, apontando, sem olhar, para o grande outdoor, que havia do outro lado da rua: Campanha nacional...Não jogue lixo nas ruas!..- Diabos, José!... É só um maldito palito de fósforo!...
- Tudo começa pequeno. - Comentou José. Estavam na esquina que interligava quatro ruas, movimentadas, no centro da cidade. Ficaram de frente para o prédio, antes às suas costas. Se entreolharam, pensativos.
- É aqui? - Indagou Tomé. - José...Eu preciso de um bom café da manhã. Peguei um ônibus interestadual, úmido, frio, cheirando a mofo!... Sabe que eu detesto mofo e janelas fechadas... Bom, foi o que eu ganhei, depois que você ligou para mim.
- Porque não tomou o café da manhâ, antes de pegar o ônibus?
- Eu funciono melhor à noite. O que acha de começarmos as 12h?
- Não.
- Por que?
- Ele fica mais forte à noite.
- Eles!...Eles, José! Você sabe, não andam sozinhos! Revesam, finger ser apenas um. Só os desavisados saem para obsediar sozinhos.
- Por que? - Indagou José, distraído com seus pensamentos, olhando para o prédio, atentamente. Tomé o olhou, irônico.
- É chato! Chega uma hora que cansa... " Eu sou o demônio!'...Dizem. Ou: "Demônio!", repetem, feito insanos, chamando assim a quem desejam assustar, vencer, obsediar, enfraquecer, subjulgar. Perde a graça, faça o o que fizer a vítima, depois de algum tempo. E se há música, tocando, na rádio, aparelho de som, celular... Um desenho animado, um filme, na tv...No blue ray...José, tudo distrai esses caras!... Eu, que fico do lado de cá, fico entediado!... Imagine os que ardem seus Chi, na escuridão?... Os que pagam, com a vida eterna na luz, pelos prazeres menores e o passaporte, só de ida, para a escuridaõ, densa e escura, eternamente?...
- Tenho um pacote de biscoitos, água e sal, com gergelim torrado. Quer?
- O que isso muda? E o complemento?
- que complemente?
- Eu preciso me alimentar bem! Gasto minha paciência, nisso! Preciso estar saciado, não? Ovos, bacon, aipim frito...
- Aipim frito? No café da manhã?...
- É o meu café da manhã! Iogurte de frutas vermelhas, suco de laranja ou tangerina, pão, queijo, presunto, requeijão...
- Enjôo, só de pensar!...
- José, nem todo mundo toma uma vitamina, e sai para desfilar!...
- Estamos perdendo tempo.
- Quem vai ser o bonzinho? - Indagou Tomé, após um longo suspiro, contrariado. - Não me olhe assim! Vou ser o perverso, hoje! Não tomei o café da manhã...
- Pode ser o perverso. Não sei se haverá bonzinho, hoje... - Disse José, e os dois foram caminhando, na direção da portaria do prédio.
- Aposto que não tem espaço para fumantes, na pocilga!... - Comentou tomé. Apagou o cigarro, deixou na lixeira, junto com o palito apagado, que guardara no bolso
- Aproveite para meditar. - Disse José.
- José, nunca irrite um homem com fome!...
Entraram no prédio, José foi até o porteiro, que estava atrás do balcão.
- José Sabbatine e Tomé Zina.
- Qual andar, padres? - Indagou o porteiro, solícito. - Sou católico, também. Ainda bem que vocês vieram... Tenho medo de perguntar, embora saiba para qual andar vocês ed dirigem... É o Sexto, não é mesmo? - José assentiu, sério. - Padre... Cuidado.
- Por que diz isso? - Indagou Tomé, receoso.
- Dizem que o andar é mal assombrado.
- Como?
- À noite, quando o prédio está vazio, apenas a equipe mínima, segurança, limpeza...No andar... Parece que há pessoas, no sexto andar... Sombras... Se movimentando pelas escadas, corredores, salas...Depois, voltam para a portaria.
- E para a garagem? - Perguntou Tomé.
- Apenas da portaria para o sexto andar.
- Então... Temos fantasmas que gostam de usar os transportes públicos!... - Gracejou Tomé. - Bom! Modernos, urbanos... É melhor do que procurar vaga para estacionar...
- Não é engraçado, padre! - Disse o porteiro. Suas duas mãos tremiam. Trazia um crucifixo, de prata, no peito. Devia ter pouco mais de cinquenta anos.
- Porque suas mãos treme? - Indagou José, sério.
- Há seis meses, não tremiam. - Respondeu o porteiro. - Foi quando comecei a trabalhar aqui... Evito ir ao sexto andar, mas as vezes, é preciso...
- O que funciona no sexto andar? - Indagou Tomé.
- Contabilidade e Psicologia.
- Tem gente, lá? Agora? - Penguntou Tomé.
- Tem, padre. Não preciso anunciá-los. sabem que os senhores passarão do dia e a noite aqui.
- A noite?... José?... Pensei que fosse só pela manhã... - Começou a dizer Tomé. José fez um gsto, para que se calasse, sem para de olhar para o porteiro.
- Qual o seu nome, filho?
- Antônio.
- Antônio... Tem a Bíblia?
- Tenho uma... Em casa, padre.
- Há uma Bíblia na portaria?
Antônio abanou a cabeça, olhos arregalados.
(Parte)

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