quinta-feira, 23 de outubro de 2025

in Malditos pensamentos que escapam (Contos) Quase te ouço Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 Todos os direitos reservados.

in Malditos pensamentos que escapam
(Contos)
Quase  te  ouço
Por Adriana  Janaína Poeta
CPF.:01233034782
Todos  os  direitos  reservados.

   Djanira  chegou  em  casa, após  o  trabalho. Passava  das  20:30h. Cansada, foi  direto  para  o  quarto.
  Tomou  banho, escolheu  roupas  confortáveis, levou  as  roupas  sujas  até  o  cesto, na  área  de  serviço.
  Foi, em  seguida,  até  a  cozinha. Buscou, na  geladeira, a  tigela  com  alface. No  armário,  a lata  de  atum, em  conserva, sólido. Lavou  as  folhas  de  alface, cuidadosamente. Abriu  a  lata  de  atum. Pôs  algumas  folhas  de  alface  no  prato, o  atum, sem  o  óleo, sobre  as  folhas, mostarda, azeite  extra virge, um  copo  com  refrigerante... Pegou  os  talheres  e  foi  para  a  sala, tendo  o  que  preparara  nas  mãos, aonde  a  irmã  estava, assistindo  a  tv.
  Sentou-se, no  sofá, ao  lado  da  irmã.  Na  tela, um  filme  repetido, "desinteressante."
  - Só  tem  isso  para  assistir... - Murmurou  a  irmã, entediada.
  - Tem  certeza? - Indagou  Djanira. Bernadete  pegou  o  controle  remoto, começou  a  mudar  de  canal. Ainda  não  tinham  tv  à  babo, não  havia  streamming. Assistiam  a  tv  aberta. Havia  das  em  que    a  programação  dava  sono.
  - Viu?...
  - Então... - Disse Djanira, sorrindo.
  - Não... -  fez  Bernadete, rindo, percebendo  o  que  a  irmã  sugeria.
  - Sempre  que  não  há  o  que  assistir, nesse  horário, temos  o  programa  de  humor  da  madrugada...  
  - Deve  estar  passando, ainda...
  - "Quase  te  ouço!" - Exclamou  Djanira, com  o  controle  remoto  na  mão. Era  um  programa  que  passava  tarde  da  noite,  ao  vivo, em  um  canal,  para  ouvir  desabafos, lamúrias  e  reclamações  dos  insones. As  pessoas  telefonavam, falando  diretamente  com  os  apresentadores.  Havia  um  que  ficava  mais  tempo, apresentando, que  não  conseguia  conter  o  riso, em  certos  momentos, mas  tentava. Djanira  o  apelidara:
  -  Boquinha.
  -  O  quê?
  -  O  apelido  dele  agora  é  esse.
  -  Por quê?
  - Já  reparou  que  le  tenta  não  rir  do  povo, reclamando, choramingando, dizendo  cada  coisa?!...Ele  tenta  disfarsar, segurando os  lábios, com  a  mão, ou  apertando  os  lábios. Entorta  a boca. É  engraçado... Boquinha, o  apresentador  que  quase  ouve...
  Então, Boquinha  apresentava  o  programa, naquela  noite.  De  pé, mãos  unidas, na  frente  do  corpo, olhar  tentando  demonstrar  seriedade, interesse, a  boca  já  entortando, devido  ao  que  ouvia, de  terno  e gravata, elegante, como  os  demais  apresentadores, parecia  refletir.
  - ...Então, tudo  o  que  a  senhora  tem  que  fazer, é  ir,neste  domingo  na... - Dizia  Boquinha, dizendo  o  endereço, horário, no  domingo,  para  quem  telefonara  e  falava  com  ele.
  - É?... - Fez  quem  falava, no  ar, com  o  apresentador, a  voz  pensativa, madura, feminina.
  - Será  muito  bem  recebida  pelo... - Formeteu  o  nome  de  um  senhor, responsável  pelo  local. - Todos  os  seus  problemas, dúvidas... Serão  varridos. No  momento  que  a  senhora  atravessar  aquela  porta...
  - Mas, o  senhor  entende?... Eu  ainda  não  contei  tudo...
  Mas, indo, neste  dominho, no  endereço  que  forneci  para  a  senhora, procurando  o  senhor...   Não  haverá  mais  problemas! Tudo  será  resolvido!  A  senhora  verá  que  uma  luz  surgirá, com  a  solução! Todas  as  amarras  serão  cortadas!  Todos  os  empecilhos, desaparecerão!... - E  Boquinha  continuou  com  o  discurso, conhecido, padrão  dos  apresentadores  do  programa.
  - Mas... O  senhor  não  entende!...
  - Eu  entendo!
  - Não, não  entende! Vou  repetir  tudo. Talvez  o  senhor  entenda, desta  vez...
  - Não  precisa  repetir, por  favor...
  - Eu  sou  viúva! Meus  filhos  não  me  visitam. Perdi  a  minha  peruca, há  uma  semana!Caiu, quando  eu  esatav  fazendo  compras... Acho  que  foi  no  mercado... Pode  ter  sido  no  Banco...  Ou  na  farmácia?
  - A  senhora contou!
  - Não  interrompa! O nome  do  progarma  é: "Quase  te  ouço"? Tente  ouvir, calado.
  - Está  bem... - Disse o  apresentador, deixando  escapar  um  suspiro, cansado.
  - Posso  ter  perdido  a  peruca  no  ponto  de  táxi! Estava  com  o  carrinho, a  bolsa, o  guarda  chuva,  o  celular...   
  - Estava  chovendo?
  - Não! O  senhor  ainda  está  interrompendo?... Sempre  levo  o  meu  guarda  chuva! Pode  chover... Mesmo  quando  faz  sol. Nunca  sabemos! E  não  gosto  de  molhar  a  minha  peruca!  Cuido  bem  dela, viu?...
  - A  senhora  perdeu  a peruca?...
  - Já  chorei! Voltei  a  todos  os  lugares... Acho  que  alguém  pegou...       
  - Compre  outra, senhora.
  - Não! Eu  quero  aquela!
  - Entendo.
  - Não  entende, não! O  senhor  usa  peruca?
  - Não.
  - Então, não  pode  entender! A  gente  se  acostuma, sabe? É  a peruca  confortável, que  representa  quem  a  usa.  Não  gosto  dos  meus  cabelos  naturais. Deixo  curto, ponho  minha  peruca, há  anos. O  senhor  acha  que  alguém  pegou  a minha  peruca?
  - Não  sei...
  - Acha  que  estão  judiando  dela?
  - Da  peruca?... - Indagou  Boquinha, já  levando  as  mãos  aos  lábios, tentando  disfarsar  uma  risada.
  - Tem  tanta  gente  ruim  no  mundo!... O  senhor  sabe!... É  uma  peruca  tão  bonita!  O  senhor  acha  que  eu  vou  encontrar?
  - Minha  senhora... Eu  não  tenho  como  saber...
  - Como  não? O  senhor não  pode  descobrir, me  ajudar?  
  - Como, senhora?
  - Para  que  o  senhor  está  aí?
  - Para  ouvir.
  -  Não!  Para  ajudar...
  -  Está  bem.
  - Não!  Não  está  nada  bem!  Perdi  a  minha  peruca!  O  senhor  vai  fazer  o  quê? 
  - Eu?
  - Quem  mais? Esse  outro... que  o  snehor  indicou, no  endereço... Vai  ajudar?
  - A  senhora  terá  que  ir..
  - Eu  já  sei! já  sei! Já  anotei  tudo!  Acha  que  alguém  pegou  a minha  peruca...Por  maldade?
  - É  possível.
  - Acha  que  vão  fazer  um  trabalho  com  ela? Sabe?...Uma  coisa  para desejar  o  meu  mal...
  - Pode  ser! Pode  ser...
  A  senhora  desatou  a chorar. Djanira  parara  de  comer, desde  o  início, rindo, divertida  com  o  diálogo, e  Bernadete  também  ria.
  - Estão  judiando  da  minha  peruca1
  - A  senhora  vai?  No  domingo?  Procurar... No  endereço? As...horas  da  manhã?  Se  a senhora  for, todos  os  seus  problemas  serão  resolvidos.
  - A  minha  peruca  vai  estar  lá? Vai? Vou  encontrar  a  minha  peruca  neste  endereço?
  - A  senhora  precisa  ir.
  - Eu  vou! Eu  vou! Mas,  se  eu  não  encontrar  lá  a  minha  peruca...Vou  até  aí, moço!
  - O  quê?
  - Porque  esse  é  o  meu  maior  problema.
  - Senhora...
  - Se  eu  não  encontrar  a  minha  peruca, neste  endereço... Não  vou  acreditar  em  mais  nada!..  
  - Não  esqueça! A  senhora  tem  o  compromisso! Neste  domingo.
 Tu-Tu-Tu-Tu-Tu-Tu... ( A  ligação  caiu, ou  desligaram).  
  - Alô? - disse   uma  voz  masculina, descansada, com sotaque  nordestino.
  - Alô? Quem  fala?
  - Alcides.
  - Sr. Alcides...
  - Alcides.
  - Já  entendi.
  - Alcides.
  - Senhor Alcides, pode  falar.
  - Eu  só  liguei. 
  - O  quê?
  - Alcides.
  - O  senhor já  disse  o  seu  nome.
  - Eu  estava  sem  ter  o  que  fazer. Liguei  a  tv... Eu  sou  um  homem  sozinho, sabe? Bebi  um  pouco. Então... Vi  o  telefoen  na  tela...Escutei  o  senhor  conversando... Ouvindo... A  senhora  da  peruca...Pensei... Vou  salvar  este  cabra, dessa doida! Homem, que  paciência, hein?...- E  dizendo  isso, Alcides começou  a  rir. Boquinha  pôs  as  duas  mãos  na  boca,  tentando  se  conter, até  conseguir  ficar  sério  de  novo. - Eu  já  tinha  mandado  ela  pentear  um  macaco! Catar coco! Varrer  o  chão, arrumar  gavetas... Comprar  uma  peruca!
  - Não, não...
  - E  que  diabos, hein? Se  ela  for  no  endereço  que  o  senhor  deu... Como  ela  vai encontar  a  peruca?  Tem  que  comprar uma! Na  loja  de perucas... - Alcides  desatou  a rir. Boquinha  deu  um  giro, ficando  de  costas, lutando  contra  arisada, até  retomar  a  postura  respeitável, sério, ouvinte  profissional.
  - Qual  o  seu  problema, senhor Alcides? - Indagou.
  - Alcides.
  - Já  sei. O  seu  nome  é  Alcides.
  - Não  me  chame  de  senhor. Só  Alcides.
  - Sei... Mas... é  sinal  de  respeito, chamá-lo  de  senhor.
  - Alcides. Só  Alcides. Me  sinto  velho, quando  alguém  me  chama  de  senhor.
  - Alcides...Qual  o  seu  problema?  
  - Não  tenho, não.
  - Não  tem  problemas?
  - Não.
  - Nenhum?
  - Bom... As  vezes, fura  um  pneu  do  carro, quando  chove...Encrava  uma  unha...A  pipoca  doce...Sabe?... Aquela  do  saco  rosa? Lembra  a minha  infãncia. Compro  sempre. Todas  deveriam  estar  açucaradas. E  não  estão, nunca! E  o  biscoito, água  e sal  com  gergelim? O  gergelim  era  torrado, agora, não  é  mais! Muda  o  sabor! Esse  povo  não  sabe?
  - Que  problema, hein?...
  - Não é? O cabra  compra  os  biscoitos, por  causa  do  sabor, do  gergelim  torrado, no  biscoito, água  e  sal...E  não  tem  mais  gergelim  torrado!..
  - Alcides...
  - O  senhor...- Começo  a  dizer  Alcides, desatou  a  rir. - Não vai  me  dizer  para  ir  a  algum  lugar, no  domingo, e  procurar  alguém, vai? Porque  eu  sei  que  não  vai  ter saco  com  pipocas, todas  açucaradas, ou  biscoitos  de  água  e  sal, com  gergelim  torrado, lá!   
  - Alcides... - Começou  a dizer boquinha, entre  rizadas.
  - E  não  me  mande  para  o  mesmo  endereço  aonde  estará  a  dona  da  peruca!...

  







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