Clube de Leitura dos Poetas/ Adriana Janaína Poeta
Clube de Leitura dos Poetas (Adriana Janaína Poeta) Publisher https://wwwfacebook.com/adrianajanainapoeta adrianajanainapoeta01233034782@gmail.com This Blog is owned and authored by Adriana Janaína Poeta, pseudonym of Adriana Janaína Alves de Oliveira / CPF. 01233034782. Brazilian, born in Rio de Janeiro. Without Whats APP. Writer, Composer, Journalist, Editor, Founder, (2004), and owner. Married to Marcelo Bernardo (de Oliveira), since 04/02/2010.
sábado, 15 de novembro de 2025
Com medo das sombras. Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 Escrito em: 14/11/2025 Conto/ Ficção In Trilogias In A Varanda Clube de Leitura dos Poetas Todos os direitos reservados.
Com medo das sombras.
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.:01233034782
Escrito em: 14/11/2025
Conto/ Ficção
In Trilogias
In A Varanda
Clube de Leitura dos Poetas
Todos os direitos reservados.
Enquanto eu digito, invadem o sistema/ Wi fi, incluem erros gramaticais/formatação, movem arquivos. Corrijo quando percebo.
Olavo ficou observando a coleção... Reproduções, evidentemente, mas ainda assim, belíssimas.
- Francisco José de Goya Lucientes. – Disse Quitéria. A sua voz, forte, feminina, segura, ecoou na sala ampla do velho casarão. Olavo virou-se, imediatamente, para olhar o seu rosto. Gostava de admirar a beleza helênica de Quitéria. Os anos passavam, ele já tinha alguns fios de cabelos brancos... Quitéria, três anos mais jovem do que ele, continuava a mesma... Talvez, mais bela. Parada no último degrau da escada, a poucos metros de Olavo, observava. – “O sono da razão”... Também é o meu preferido, sabe disso.
- Eu sei. – disse Olavo, sorrindo. Quitéria caminhou até ele que estava hipnotizado, mal respirava. Ela observou o quadro que Olavo sempre admirava por mais tempo, depois, no rápido movimento, olhou para ele, sempre séria. – Você sempre a contempla mais...
Olavo voltou a fitar o quadro. Sim, aquele quadro o intrigava, sonhava com ele, não era qualquer sonho... Ele era o homem, debruçado sobre a mesa de madeira pesada e tosca, tentando proteger-se...
- Eu sempre tenho sonhos com este quadro, Quitéria... – Murmurou Olavo, enquanto estremecia, absorvido pela lembrança. – Mas... Nos meus sonhos... Eu sou o homem que tenta proteger-se...
- Dos que estão à sua volta... Nas sombras. – completou Quitéria. – Lembro. Já contou isso, diversas vezes!... – Quitéria caminhou até a porta, pesada, antiga como tudo no casarão, a porta que dava para um longo corredor, à esquerda. Ali ficava o escritório da casa, a cozinha, a área de serviço, um banheiro social... Por ali, acessavam o quintal, o pomar, a horta e o jardim. Ele conhecia bem a casa.
- Não íamos ao cinema? – ele perguntou.
- Decidi que vamos ficar em casa. – Respondeu Quitéria, sem olhar para trás, desaparecendo depois de passar pela porta... Deixou entreaberta. O rangido, longo, rasgando o silêncio do casarão, era inquietante. Olavo percebeu que o corredor estava escuro. As luzes não foram acesas. Quitéria sabia que ele tinha medo do escuro.
- Quitéria? Quitéria?
- Venha, Olavo. Estou preparando o jantar... Na cozinha.
- Acenda as luzes do corredor... Estão apagadas. – Pediu Olavo. Silêncio. Não ouvia um só ruído... Parecia que a casa estava vazia. – Quitéria? Quitéria? – Chamou Olavo, nervoso, junto à porta. Não ousava abri-la mais! Não queria olhar para o corredor escuro! Um suor frio descia do seu pescoço para as costas. O coração começou a bater mais rápido... Uma quentura apoderou-se da sua cabeça... – Não brinque, Quitéria! Sabe que eu não vou até a cozinha com o corredor escuro!
- E se acabar a luz?
- O quê?
- Se acabar a luz, o que você faz?
- Quitéria...
- Estou brincando!... – disse Quitéria. Olavo ouviu os risos dela. Passou as mãos pelo pescoço, cabelos, rosto... Até para no peito, na altura do coração. Começou a respirar com dificuldade...
(Trecho)
*Referência a gravura de Francisco de Goya: O Sono da Razão Produz Monstros/ 1799.
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
Sumaúma Por Adriana Janaína Poeta/ CPF.:01233034782/ Composição escrita em:14/11/2025/ In Hhumma/ Clube de Leitura dos Poetas/ Todos os direitos reservados.
Sumaúma
Por Adriana Janaína Poeta/
CPF.:01233034782/
Composição escrita em:14/11/2025/
In Hhumma*/
Clube de Leitura dos Poetas/
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movem arquivos, inserem erros gramaticais/ formatação.
Corrijo quando percebo.
Aaaah!... Aaaah!...
Sumaúma! x2
Guardiã!
Sumaúma!
Traz a luz
e a vida
na floresta!
Mafumeira!
Árvore da lã!
Paina lisa!
Árvore da seda!
Kapok,
Pulim!
Malpanka,
Ora!
Kumaka,
Lupuna!
Bongo,
Ocá,
Poilão!
Árvore da vida!
Rainha,
Mãe,
da Floresta!
Escada para
o céu,
Sumaúma!
Grande,
alta,
guardiã!
Flores,
frutos!...
Aaaah!...
Sumaúma! x2
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*Hhumma é o pseudônimo de Adriana Janaína Poeta, CPF.:01233034782,
como cantora.
domingo, 9 de novembro de 2025
A maçã. Por Adriana Janaína Poeta/ CPF.:01233034782 Conto/ Ficção/ In A Varanda/ Clube de Leitura dos Poetas/ Todos os direitos reservados
A maçã.
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.:01233034782
Conto/ Ficção
In A Varanda
Clube de Leitura dos Poetas
Todos os direitos reservados.
Cândida atendeu ao telefone celular que tocava insistente. Ouviu quando ainda estava tomando banho. O marido estava na cozinha, preparando sanduíches para o casal. Enrolada na toalha foi até o quarto. Sentou-se na cama, esticou o braço. O celular estava carregando a bateria, conectado à tomada, próximo ao Blue Ray.
- Alô?
- Por que demorou tanto para atender? - Indagou o irmão, Sóstenes, nervoso e preocupado.
- Estava no banho. Luís está na cozinha, mais afastado, não dá para ouvir o toque do telefone. - Respondeu Cândida, calmamente. Sabia que havia acontecido algo pelo tom da voz do irmão. Ela e os irmãos sempre foram muito unidos. Sóstenes era o caçula dos filhos, o primogênito faleceu há alguns anos, uma grande tristeza e perda.Ela era a mais velha das filhas, e havia a caçula das filhas, Leila. Eram todos adultos, órfãos de pais, avós e tias falecidas. Cândida conheceu e casou com Luís, e Leila também era casada, tendo conhecido o marido meses antes de Cândida conhecer Luís. Cândida tinha 38 anos, quando conheceu Luís. Namoraram, noivaram, Luís pediu a mão de Cândida em casamento para os irmãos dela. Casou 10 dias antes de completar 39 anos. Sentiu- se em casa com Luís, desde o início. Era como se já se conhecessem. Os irmãos moravam juntos, nessa época. Luís sempre foi bom marido, amigo e cunhado. Tratava os irmãos dela como se fossem os seus irmãos. Era paciente, atencioso, carinhoso, prestativo com todos.
Sóstenes era bom irmão, como Leila e o primogênito, Ezequiel. Sóstenes sempre socorria os irmãos, a Luís, quando era preciso. Ezequiel tinha a paciência de um santo, sendo bom ouvinte e conselheiro, como Luís. Seus irmãos, como Luís eram atenciosos, afetuosos, inteligentes, amáveis, sempre perdoando a todos, algumas vezes até ingênuos com as outras pessoas que conheciam. Leila conheceu e casou com Tássio, após a maioridade, sendo o seu primeiro namorado. Após a morte dos pais, ainda adolescente, retraiu-se. Formou-s e professora, conheceu Tássio, casou-se. Depois que os pais morreram, tornou-se mais frágil, emocional e fisicamente, embora fosse saudável, comunicativa. Cândida a levou para fazer vários check ups, sempre mostrando que estava tudo ok, apenas eventuais anemias, porque Leila vivia fazendo dietas severas, achando estar acima do peso ideal. Quando algo a desagradava ou decepcionava, refletia na sua saúde. O seu trabalho era exaustivo. Leila não costumava ouvir os conselhos de Cândida, principalmente depois que conheceu e casou-se com Tássio. Cândida, por sua vez, procurava interferir o mínimo possível, afinal a irmã já era adulta. Quando Leila a procurava para contar algo, e perguntava a sua opinião, dava, com cuidado. Era franca e direta, por isso Leila às vezes não gostava de ouvi-la, mas as suas análises estavam sempre coerentes. Não pressionava, não insistia, apenas dizia o que concluía, quando perguntavam. Não procurava para dizer, era procurada. Independente do que dizia, respeitava a decisões e o livre arbítrio dos irmãos.
- Estou indo buscar você e Luís. - Disse Sóstenes.
- Aconteceu alguma coisa?
- Tássio ligou, há pouco. Leila chegou do trabalho sentindo-se mal. estou indo buscar você e Luís para irmos até lá. Quando eu chegar na garagem, ligo e vocês descem. Temos que levá-la ao Hospital, perto de nós. Ela pode ficar aí com vocês, eu a levo para casa, depois que estiver bem. Assim, você cuida dela, até ela melhorar.
- Tudo bem. - Concordou Cândida.
- Até logo.
Cândida foi até a cozinha e avisou Luís. Voltou para o quarto, ligou para Leila. Depois que o telefone tocou várias vezes, Tássio atendeu.
- Alô?
- Tássio? O que houve com Leila?
- Está passando muito mal.
- O quê ela tem? Passe o telefone para ela, por favor...
- Tá... Ela não quer atender. Já vomitou duas vezes. - Disse Tássio. Leila sempre vomitava quando estava nervosa, sob estresse, indisposta. Desde criança.
- O quê ela disse que está sentindo?
- Não sei. Chegou em casa, chorando, dizendo que estava passando mal, cansada. Foi deitar na cama. Levantou para ir ao banheiro vomitar duas vezes.
- Tem refrigerante cola? Biscoito água e sal? Maçã... Tem maçã? Basta cortar ao meio e raspar com a colher de café. Faz bem para o estômago.
- Não temos nada disso em casa.
- Não tem? Faz um copo de soro caseiro. Água gelada, uma pitada de sal, uma colher de chá de açúcar. Mexa bem, até dissolver o sal e o açúcar. Peça a Leila que beba, aos poucos. Sóstenes, eu e Luís estamos indo para aí, buscá-la. Vamos levá-la ao hospital. Se quiser, venha também. Por favor, prepare uma bolsa com duas mudas de roupas, documento de identificação, sandálias, dela.
- O quê? Roupas?
- Sim, para passar um ou dois dias aqui, até melhorar. Peça que ela esteja pronta para ir ao hospital quando chegarmos.
- Tá.
- Não deve ser nada grave. Já teve essas indisposições antes. Está cansada, o trabalho dela é exaustivo, a viagem de ida e volta para casa também.
- O quê Leila tem? - Perguntou Luís, quando Cândida desligou o telefone, preocupado, trazendo os sanduíches e suco de laranja.
- Está indisposta. Acho. Vomitou quando chegou do trabalho, chorando. Disse a Tássio que não se sente bem.
- E o refrigerante cola, que ela tem que sempre ter em casa? O biscoito água e sal? Maçã? - Indagou Luís. Conhecia os hábitos de todos os irmãos. Ele mesmo já tivera que socorrer Leila, algumas vezes, comprando e levando os itens até ela. Era o que a mãe, os irmãos de Leila faziam por ela, desde a infância, quando Leila estava indisposta.
- Tássio disse que não tem em casa. Pedi para avisar Leila, deixar tudo pronto, fazer um copo com soro caseiro.
Pouco tempo depois estavam na casa de Leila e Tássio, em outro município. Leila estava deitada na cama, chorando.
- Leila, o quê você está sentindo? - Perguntou Cândida.
- Dor!...
- Que tipo de dor? Onde?
- Muita dor!... Já vomitei três vezes...
- Dor onde? Na cabeça? No corpo? No estômago?...
- Dor de cabeça forte... Enxaqueca... Dor nas costas e nos ombros... - Disse Leila. Levantou-se, foi para o banheiro e vomitou novamente. Voltou do banheiro, andando lentamente. Ainda usava as roupas que usava no trabalho. Cândida notou que Leila levava as mãos ao peito, aos ombros, as costas, esfregava braços e ombros.
- Ela tomou o soro? - Indagou Luís para Tássio.
- Metade do copo. Vomitou em seguida.
- Devíamos ter parado em algum lugar para comprar refrigerante cola, biscoito água e sal, maçãs... - Comentou Luís, pensativo.
- Preparou a bolsa dela? - perguntou Cândida.
- Faço isso agora. Esqueci... - Disse Tássio.
- Não... - Gemeu Leila voltando para o banheiro. Não tinha mais o que vomitar. Estava parada, olhando para a privada, a tampa aberta, com a mão direita espalmada nos azulejos da parede.
- O quê? - Indagou Cândida. Tássio foi preparar a bolsa de Leila. - Tássio, ponha o celular e o RG dela junto. Vai precisar do RG no Hospital.
- Não precisa preparar a bolsa! - disse Leila, irritada. Puxou a descarga, mesmo não tendo vomitado. Passou as mãos pelos cabelos, presos num rabo de cavalo. Abriu a porta. - eu não vou. - Disse, pálida.
- Leila, Sóstenes, eu, Luís, estamos aqui para levar você até o hospital. Depois, você e Tássio ficam em nosso apartamento, um ou dois dias, até você melhorar. Fica mais perto do Hospital. Compramos refrigerante cola, biscoitos água e sal, maçãs, no caminho. Quando você melhorar, Sóstenes traz vocês para casa.
- Não. - Disse Leila, começando a chorar. Foi deitar na cama. Os três entreolharam-se. Tássio preparou uma bolsa para Leila, a mochila dele. Ficou olhando, para saber se iriam ou não até o Hospital.
- Vamos, Leila. Calce os sapatos. Você diz o que sente para o médico, ele receita os remédios, compramos, você descansa e fica bem. Tássio irá junto.
- Aqui é longe da casa de Sóstenes, do meu apartamento. Sóstenes tem compromissos, não pode vir a qualquer momento. Vamos, Leila.
- Já preparei tudo. - Disse Tássio.
- Calce os sapatos, Leila, por favor. - Pediu Cândida. Meia hora depois, estavam a caminho do Hospital. Era público, mas com excelente atendimento e instalações. Cândida preencheu a ficha com os dados de Leila. Sentaram na sala de espera. Vinte minutos depois, chamaram o nome de Leila. Cândida a acompanhou até a sala do atendimento. A médica devia ter 40 anos, cabelos louros, na altura dos ombros, olhos claros. Anotava algo, quando entraram na sala.
- Feche a porta, por favor. Sentem-se. Já vou atender vocês. - Disse a médica. Terminou de fazer a anotação, guardou na gaveta da mesa, olhou para as duas, sorrindo. - Pode falar.
- Minha irmã chegou em casa, do trabalho, com dores no corpo. Já vomitou quatro vezes. Desde criança vomita quando está indisposta, sob estresse. Mas, está com as dores no corpo e na cabeça. - Disse Cândida. Leila fez um gesto para que Cândida não dissesse mais nada.
- Doutora, eu sinto muita dor!... - disse Leila, os olhos cheios de lágrimas.
- Que tipo de dor? - Perguntou a médica.
- Dor!... Muita dor... Dói muito... Que dor!... - Respondeu Leila, agarrada ao casaco que trazia nas mãos.
- Doutora, Leila sente dores nas costas, peito, ombros, braços, cintura e na cabeça, pescoço, quadris. Está com enxaqueca forte, enjôo, cansaço. Sei por que observei. È professora, o trabalho é exaustivo. Vai precisar de um atestado para ficar em casa por alguns dias, descansando. - Disse Cândida. Leila abanou a cabeça. A doutora observava interessada e pensativa.
- Então... Ela está com enxaqueca, enjôo... Essas dores... O exame de sangue está ok. Apenas uma anemia leve. Precisa melhorar a alimentação, tomar vitaminas. Sei o que você tem. Minha amiga sente o mesmo... Sofre disso há anos. È crônico. Precisa evitar as causas, tratar quando tiver as crises. Chama-se costacondrite. Você levou um tombo ou carregou peso esses dias? Isso aciona a crise. A enxaqueca causa o enjôo. Vou prescrever medicamentos, dar o atestado... Descanse. Não faça nada alguns dias, tome os medicamentos.
- Costacondrite?... O quê é isso, doutora?
- Uma inflamação muscular, afeta os ossos, porque provoca dor. Vou prescrever antiinflamatório, algo para o enjôo, a dor de cabeça, as dores, vitaminas... Vai tomar uma injeção aqui... Para que faça efeito mais rápido. Vai sentir-se melhor. O que vou prescrever para a dor, só pode comprar com receita médica.
- Obrigada, doutora.
Logo deixaram a sala. Foram à farmácia, a um mercado, depois Sóstenes deixou Tássio e Leila no apartamento de Luís e Cândida.
No apartamento, Leila foi melhorando das dores. Cândida raspou uma maçã inteira, Luís encheu um copo com o refrigerante cola.
- Você falou com a doutora, sem me deixar falar o que eu sentia... - Queixou-se, Leila.
- Sempre que precisar falar sobre algo com alguém, descreva minuciosamente, com detalhes, sobretudo se é urgente, importante, como a saúde. A doutora não pode adivinhar o que você sente. Sem saber ao certo, não tem como prescrever corretamente. Se não puder falar, escreva, e mostre. Assim, poupa tempo. Eu observei, por isso disse o que percebi que você sentia. Sempre anote numa agenda ou caderno o que aconteceu, os remédios e recomendações, os sintomas. Agora sabe que tem costacondrite. Vai evitar as causas, sabe que precisa tomar antiinflamatório quando sentir isso. - Disse Cândida. Era o que ela fazia, e funcionava. Leila era mais emocional, era a sua forma de reagir a tudo. Cândida, mais racional.
- A dor está passando. - Disse Leila enquanto comia as raspas da maçã.
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sexta-feira, 7 de novembro de 2025
Os desmaios. Por Adriana Janaína Poeta CPF.: 01233034782 in: O Carneiro Nº09/ Volume I (Conto/ Ficção) Escrito em 01/10/2025 Todos os direitos reservados
Os desmaios.
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.: 01233034782
in: O Carneiro
Nº09/ Volume I
(Conto/ Ficção)
Escrito em 01/10/2025
Todos os direitos reservados
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Mariano acordou e olhou ao redor. Já era dia. O corpo estava dolorido, havia uma pressão na cabeça. Não lembrava de ter ido para cama...
Levantou-se, foi para o banheiro da suíte. Era solteiro, sem filhos, tinha 53 anos. Morava em casa própria, em condomínio residencial. Escolheu o piso, os móveis da suíte que ocupava na casa, além dos móveis, decoração e reforma do resto da casa. Havia alguns itens e móveis de família, que pertenceram a mãe, advogada falecida nos anos 90, dos irmãos dele. Era uma casa ampla, com quintal, garagem, piscina, churrasqueira, jardim, antiga. Uma suíte, três quartos, tendo transformado um em sala de vídeo e TV, uma sala, cozinha, dois banheiros, área de serviço, pequena varanda.
Há algum tempo conheceu na noite carioca, apresentadas por terceiros, conhecidos, uma mulher, Maiara, negra, cabelos curtos, alisados, magra, ombros curtos, estatura baixa, idosa, mãe de duas filhas, que estavam com ela. Maiara vestia-se como se tivesse na juventude rebelde. Roupas decotadas e justas, transparências, calças com rasgados e detalhes. Usava cordões, brincos, pulseiras, anéis chamativos. Gesticulava e falava muito, estava sempre sorrindo, aquele sorriso congelado, artificial. Gabava-se o tempo todo de conhecer artistas, empresários, e outras pessoas influentes, importantes. Oferecia o tempo as filhas, sem nenhuma cerimônia. Dizia que estava sempre nas grandes festas, frequentando os bastidores de programas de televisão, esportivos, shows, viajando, em especial para Milão, na Itália. Dizia já ter morado lá, se considerava italiana, e às vezes chamava uma das filhas empregando termos em italiano. Chamava a cidade italiana de: "mia Milão!" Exibiu, pelo celular, diversas fotos de suas viagens e com famosos, no Brasil, em festas, eventos, hotéis e praias no Rio de Janeiro. Parecia deslumbrada com o luxo, fama e riqueza. Com o tempo, Mariano descobriu, por terceiros, que Maiara nasceu e foi criada numa favela, a Serrinha, em Madureira, bairro da cidade do Rio de Janeiro. Teve uma filha com um chapeiro, depois dono de trailer na orla da Barra da Tijuca, RJ, a mais velha, que tinha um filho com um homem que estava preso, e o filho era criado pela mãe do pai detento, e ela, a filha mais velha visitava o filho. A outra filha, apaixonada e namorada de um segurança de Hotel de luxo na Barra da Tijuca, RJ, em frente à praia, estudante de publicidade, praticante de boxe, era fruto de um relacionamento que Maiara teve com um senhor, hoje casado, que morava em prédio em Copacabana, bairro da zona sul carioca. Anos depois, a filha mais velha deixou escapar para a irmã de Mariano, em visita com o marido a casa do irmão, que Maiara e a filha caçula, antes de atingir a maior idade, já que recebia pensão do pai, certa vez ameaçou a esposa do pai, em Copacabana, que teve que correr e se abrigar, para não apanhar das duas, porque elas queriam mais dinheiro, e o pai só pagava o estipulado na pensão. Maiara vivia de pequenos golpes, de intermediações e de encontros, onde também agia como facilitadora para terceiros, inclusive, conhecidos dela, estrangeiros. Isso Mariano só descobriu anos após ter conhecido Maiara e as filhas, através do primo da caçula, que na época atuava como corretor de imóveis com a namorada, comissária de bordo em uma companhia aérea, morador da Barra da Tijuca; um senhor negro, .alto, casado, que também dizia ser corretor de imóveis, mas depois havia indícios de que atuasse como agenciador de encontros, como Maiara. Estes estavam na mesa do local, um restaurante com música ao vivo, na orla carioca, onde Mariano estava. Mariano estava sendo atraído para uma armadilha, sem perceber.
Maiara mostrou fotos das duas filhas, que segundo ela eram modelos, em viagens para Milão, desde a menor idade, com vários senhores, e também em fotos de moda praia e outros vestuários, para confecções. Maiara estava sempre falando sobre o samba, o pagode, as escolas de samba do bairro de Madureira, onde era assídua frequentadora. Falava das filhas como se fossem duas jóias preciosas que precisasse oferecer, para obter lucro ou simplesmente, ter o que dizer, além de amar Milão e suas viagens, estar entre os famosos, em festas, shows, hotéis, eventos e restaurantes badalados.
Mariano fora bem criado era educado, trabalhador incansável, responsável, atencioso e protetor, carinhoso com os irmãos, todos órfãos dos pais, como ele. Sempre enxergava apenas qualidades nas pessoas, como sua mãe e seu irmão primogênito, sendo muitas vezes até ingênuo. Ajudava a todos que precisavam, de forma incansável, perdoava sempre. Era otimista, alegre, comunicativo, bem sucedido, feliz, antes de ser apresentado a todos os que estavam naquela mesa. Até mesmo quem apresentou Maiara, conheceu pouco tempo antes. Naquele momento da vida, morava com o irmão primogênito, que passava períodos com as irmãs, já casadas. Tinha uma vida estável, feliz. Maiara foi logo dizendo que queria atuar como corretora de imóveis, profissão de Mariano, que tinha feito curso e tinha documentos que comprovavam. Maiara disse que a filha caçula morava em um flat de luxo, alugado pelo namorado, segurança, para ela. Maiara e a filha mais velha ficavam nas casas de familiares e amigos, às vezes no flat da filha caçula.
As duas filhas de Maiara, Helena e Heloísa, não possuíam nada que justificasse os grandes elogios de Maiara quanto à beleza das duas. Tinham estatura baixa, rostos comuns, pés desproporcionais, tortos, ombros curtos. A mais velha tinha cabelos castanhos, meio ondulados, morena clara, a caçula usava apliques, longos, lisos e negros, pele morena,um grande rabo de cavalo, bem cuidado. Eram jovens, apenas isso, sorridentes como a mãe. Mariano, naquela noite, apenas ouvia Maiara falar sobre as viagens, seus conhecimentos, sobre a beleza das filhas, as paixões que dizia que as duas despertavam por onde passavam,
na Itália, em Milão, e no Rio de Janeiro, no Brasil.
Na semana seguinte, Mariano não teve notícia das três, esquecendo por completo das três mulheres apresentadas naquela noite. Após um encontro de negócios, foi com outra corretora, que com ele trabalhava, uma senhora, para um restaurante, em um shopping carioca, para almoçar. Maiara aproximou-se, acompanhada das duas filhas, já sentando à mesa, sorridente e espalhafatosa. Depois disso, passaram a estar sempre, Maiara com uma ou com as duas filhas, nos locais onde Mariano estava, como se fosse coincidência, obra do acaso. Um dia, a filha caçula de Maiara, aparentando estar bêbada, apertou a campainha da casa de Mariano, que estava sozinho, assistindo um filme, era noite. Quando ele olhou pela janela da cozinha, de frente para os portões, na época gradeados, com visão para a calçada e rua do condomínio, viu Heloísa, com vestido justo e saltos, jóias, bolsa à tiracolo pequena e brilhante, sozinha. Imediatamente, embora não soubesse explicar o motivo, teve uma sensação ruim, e continuou observando, pela fresta da janela, na cozinha, com as luzes apagadas. Fora havia a iluminação da rua. Ao perceber que Mariano não iria atender, já que parecia ter certeza de que estava em casa, devido a insistência com que apertava a campainha e gritava o seu nome, mesmo sem que ele a tivesse intimidade com ela, ou a tivesse convidado, fornecido o endereço, Heloísa pulou sobre o capô do carro de Mariano,
que este deixou estacionado na calçada, em frente a casa, e começou a imitar uma cabra, sapateando sobre o capô, como se fosse um animal enlouquecido...
Pouco tempo depois, Maiara, chorando, implorou que Mariano deixasse ela e as duas filhas ficarem hospedadas nos quartos de hóspedes da casa, pois não tinham onde ficar. A filha caçula estava sendo despejada do flat, ela e a filha mais velha precisavam dar um tempo das casas dos familiares e amigos. Seria por pouco tempo. Chegou com as filhas, sacolas e mochilas, ventilador que retiraram do flat, sem autorização, chorando, desesperada. Mariano deixou, com a condição de ser temporário. Depois disso, ficavam indo e vindo, e a vida de Mariano, a casa, viraram de pernas para o ar. Teve várias perdas financeiras. Maiara vivia apresentando pessoas que causavam prejuízos a Mariano, negócios não davam certo, o dinheiro escasseava, o irmão primogênito adoeceu e morreu... Helena, a filha mais velha de Maiara, engravidou, casou e separou de um homem com ascendência árabe, que morava no Brasil, no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca. A filha era autista. Expulsa do apartamento pelo ex-marido, foi pedir abrigo com a filha e a babá da filha na casa de Mariano. Disse que seria temporário... Enquanto isso, nas visitas de Maiara a casa, postou uma foto, de biquíni, dentro da piscina da casa de Mariano, nas redes sociais, com a frase: "Em mia casa!" Helena amassava e usava as tampas metálicas do baleiro de vidro que Mariano comprou e deixou na sala, porque lembrava a sua infância, para usar como cinzeiro enquanto fumava, dentro do quarto de hóspedes, até que o baleiro ficou sem nenhuma tampa. Todas desapareceram. Foram sumindo, quebrando, danificando móveis, eletro/eletrônicos, utensílios, documentos, fotos, e Mariano ia repondo como podia, refém da situação. Sempre havia um problema, para que voltassem a pedir abrigo, fizeram cópias das chaves, traziam pessoas estranhas para casa, a vida de Mariano estava sempre repleta de perdas financeiras e problemas, que antes jamais existiram, tendo Maiara e as filhas apresentado investidores e clientes, que só eram problemas. As três revezavam, indo e vindo das casas de amigos, conhecidos e familiares delas. Heloísa, quando contrariada, chutava as portas de madeira da casa, retirando com os chutes as maçanetas, deixando as portas quebradas, sem ter como fechar com chaves. Jogava aparelhos de telefone ou o que estivesse nas mãos dentro da piscina ou contra a parede. Certa vez, postaram nas redes sociais, pouco antes de Heloísa ser desalojada do Flat de luxo na Barra da Tijuca, uma foto, as três, com taças de champagne nas mãos, erguidas, com a frase: "Ricas!" Pouco antes de Maiara implorar ficar por um tempo curto na casa de Mariano, alegando não ter onde ficar com as filhas.
Além dos danos financeiros, o irmão que faleceu, a saúde de Mariano, antes saudável, forte, foi deteriorando. Começaram a surgir problemas de pressão, que ele nunca teve. Então, os desmaios. O coração falhando, a falta de ar, as alergias, os inchaços no corpo, pernas, pés, a insônia, a rinite alérgica.
Mariano sempre cuidou da alimentação. Tomava sol, gostava de respirar o ar puro, correr, todos os dias, no condomínio, ir a academia, se exercitar, ir à praia, ficar na piscina da sua casa, nas horas vagas. Lia os jornais, assistia filmes, documentários, musicais, entrevistas. Lia livros, revistas. Visitava as irmãs, quando o irmão estava vivo, este morava com ele a maior parte do tempo. Eram muito amigos. Quando decorou a sala de vídeo, comprou vários bonecos e pelúcias da Disney, porque desde criança, amava tudo relacionado à Disney, para onde viajou duas vezes, na Flórida, Estados Unidos.
As duas irmãs estavam preocupadas. Mariano havia ido ao médico e haviam recomendado que procurasse um cardiologista.
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quinta-feira, 6 de novembro de 2025
O chá às 19 horas/ Por Adriana Janaína Poeta/ CPF.:01233034782/ In A Varanda Conto/ Ficção Clube de Leitura dos Poetas/ Todos os direitos reservados.
O chá às 19 horas
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.:01233034782
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Escrito em 12/09/2025.
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Amália encheu a xícara com água quente, levou para a mesa. Olhou para a janela da cozinha. Era noite. Na mesa, estava o açucareiro de porcelana como a xícara, o bule com a água quente, a caixinha com os saquinhos de chá preto, seu preferido, a colher pequena de metal. Mergulhou um saquinho de chá quente na xícara, adoçou, mexendo delicadamente. Sacudiu o saquinho, ao retirá-lo da xícara, sobre esta, depois jogou fora, voltando para a mesa e o seu chá quente. Anastácia, sua neta, que a chamava de mãe, como os outros netos a chamavam, surgiu no corredor, sorrindo, já de pijamas, sandálias com fivelas e meias. Tinha 08 anos, trazia um livro infantil nas mãos, o que estava lendo. Sentou-se à mesa.
- Hum... Hora do chá.
- Quer o seu de camomila? - Perguntou Amália. Era o preferido da neta. Sempre tomavam o chá, juntas, às 17h. As 19h, Amália tomava o chá preto de novo. Em geral a neta estava lendo ou brincando, por isso às 19h tomava o chá sozinha.
- Quero. Obrigado, mãe. - respondeu Anastácia. Amália buscou no armário a caixinha com o chá de camomila. Pegou mais uma xícara, colher, levou tudo para a mesa. Encheu com a água, recém fervida, ainda quente. Pôs o açúcar, mergulhou o saquinho... Quando ia retirar o saquinho para jogar fora, lembrou que a neta gostava de tomar o seu chá de camomila vendo as flores maceradas da camomila entre as folhas e caule, por isso, sorriu, entregando a xícara para a neta. Anastácia deixou o livro na mesa. As duas ficaram em silêncio, tomando o chá. Sempre tomavam o chá em silêncio. Era assim que Amália tomava o chá, e não era preciso dizer nada, Anastácia sabia. Amália refletia enquanto tomava o chá. Tomaram o chá e depois foram para a sala. A mãe fora ao mercado após o trabalho e ainda não voltara. Os irmãos de Anastácia brincavam no quarto. Amália ligou a TV. Sentaram no sofá.
- Aconteceu alguma coisa, mãe?
- Por que pergunta isso?
- Parece preocupada.
- Uma conhecida contou uma coisa que passa. Fiquei lembrando, e tomando o chá, sempre reflito. ..
- O quê ela contou?
- Tive sorte, em parte, porque a sua mãe, as suas tias, são boas filhas. Sua mãe sempre me ajuda suas tias não fazem mais porque não podem. A conhecida não teve sorte com as filhas. Há pais e mães que não respeite os filhos, há filhos que não respeitam os pais e mães. O mesmo acontece com irmãos e irmãs, amigos e amigas... As pessoas são diferentes, Anastácia. Lembre disso. A família é importante, mas você deve saber que cada ser humano é único e diferente. Têm personalidade, reações individuais. Cada um enxerga a vida de forma única, vê o mundo com os seus olhos, percebe e reage ao que vive de forma sua. Você e a sua mãe adoram ler, como o seu avô, o seu irmão primogênito... Cada autor enxerga o mundo desta forma, com olhos diferentes. Isso é enriquecedor. A vida é maravilhosa, como o mundo, perfeito. Os seres humanos são como todos os seres vivos, os animais são seres vivos, tem sentimentos, pensam, as árvores são seres vivos, todos nas suas formas... A minha conhecida contou que sempre fez tudo o que pode pelos irmãos, pelas filhas, mas só recebeu ingratidão, animosidade, traição, quando mais precisou de ajuda. Uns, por maldade, outros porque não precisavam mais dela. Achavam que não precisariam nunca mais. Disse que não queriam ter trabalho com ela também, embora ela ainda estivesse bem de saúde. Uns porque queriam agradar aos seus maridos e esposas, não queriam ela por perto. Existem pessoas facilmente manipuladas por outras. Basta um sussurro, um comentário, uma chantagem emocional ou pressão, para agir como marionete. Às vezes não é porque querem, estão dominados, influenciados, pressionados. Lembre disso. Deve enxergar cada pessoa como é, assim como deve se conhecer e se aceitar, como é. Deve gostar ou não das pessoas, da mesma forma, enxergando cada um, sem fantasias. Não deve esperar ajuda ou gratidão. Pode ter amizades, sem querer fazer amigos. Haverá sempre um momento quando será você ou ele, ela. Deve ser justa, correta, mas inteira, entende? É preciso gostar da própria companhia, para depois gostar de estar com alguém, seja quem for. Evita tristeza, se a outra pessoa se fasta, parte, por qualquer motivo. Não deve precisar de ninguém, embora faça parte da humanidade esteja entre ela. As pessoas às vezes agem de forma estranha, com ou sem motivos, não deve ficar surpresa. A maioria das pessoas, uma hora ou outra, quebra. Bate o pino, sabe? - As duas riram. - Depois, voltam ao normal. Ou não... Mas, há as que agem assim por influência de outros, ameaças, chantagens, mentiras... E há as pessoas que são apenas más. São poucas, mas existem. Essas não mudam, embora possam dissimular tentar disfarçar, sorrindo, dizendo exatamente o que queremos ouvir, para ganhar a nossa confiança... Até se revelar como são, o que realmente pensam, querem. São pessoas ruins, irracionais, violentas, abusivas, verbal ou fisicamente. Podem fazer outras, as influenciáveis, agirem assim, para magoar, ferir, incomodar alguém que desejam atingir. Você deve ser capaz de perceber, identificar quem age como marionete, quem age assim por natureza própria. è raro que alguém consiga identificar cada um, e resistir. Você deve ser quem identifica e resiste Anastácia, para se proteger, para lidar, evitar, resistir e também proteger aos seus irmãos, sua mãe... Quem quer nos ferir, usa quem está perto. Não é possível ensinar a ser, apenas somos. Saber tudo isso, ajuda aperceber mais, porém ser habilidoso a ponto de enxergar cada qual como é, nasce com a gente. Os raros. Há quem goste de estudar as pessoas para usar contra as outras, e também prejudica estas. São incapazes de evoluir, de respeitar o próximo. Só pensam em destruir. Essa é a sua natureza. São minoria, mas gostam de influenciar para o mal os influenciáveis, e odeiam os que não podem influenciar, arrastar... Enxergar as pessoas como são nos protege, Anastácia. A verdade é sempre importante. Conseguir ver e lidar com tudo e todos, sem ilusões, sem mentiras.
- Eu não ligo para ter ou não amigos. - Disse Anastácia. - Nunca liguei. Se eu tenho, está bem. Se por acaso mudam, também.
- Faz bem. Seja íntegra. Apenas isso.
O barulho do portão da garagem sendo aberto e do carro avisava que a mãe estava chegando em casa.
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O homem do sapato branco por Adriana Janaína Poeta CPF.: 01233034782 in Memórias Clube de Leitura dos Poetas Todos os direitos reservados. Escrito em 12/10/2015.
O homem do sapato branco
por Adriana Janaína Poeta
CPF.: 01233034782
in Memórias
Clube de Leitura dos Poetas
Todos os direitos reservados.
Escrito em 12/10/2015.
No final dos anos 70, eu era criança, nasci em 14 de fevereiro de 1971. Eu e meus irmãos tínhamos horário para dormir, todos os dias, inclusive nos finais de semana. Não podíamos assistir filmes policiais, de terror, programas que tratassem de violência, crimes. Jantávamos as 18 horas, o mais tardar as 19h, já tendo tomado banho, estando com pijamas para dormir, meias e sandálias com fivelas. Minha segunda mãe, Nair Sabbatine de Oliveira, vó materna, dizia que pés descalços causavam resfriados, então usávamos meias e sandálias com fivelas o dia todo. Minha mãe restringia a programação televisiva e estabelecia o horário para ir dormir. Dizia que o hormônio do crescimento só opera a noite nas crianças e adolescentes. Quando minha mãe saía a noite, com seu segundo marido, pai da minha irmã caçula, nas raras vezes quando saía a noite, após o trabalho ou finais de semana, eu corria para a sala, onde minha segunda mãe estava, vendo TV. Meu pai, dos meus outros dois irmãos, meninos, morreu quando éramos muito pequenos, meados dos anos 70. Deitava em seu colo, ou deitava a minha cabeça nele, e ficava assistindo TV, até ouvir o barulho do portão da garagem sendo aberto, e o carro entrando nela. Eu corria para o quart, onde meus irmãos dormiam, pulava na cama, me cobria, e fingia estar dormindo, para não ser repreendida por minha mãe. Ela sempre ia até o quarto, ver se estávamos dormindo, ou descobertos.
Havia uma série que eu adorei assistir alguns trechos possíveis: Kojak. Achava ótimo ver o Telly Savalas, detetive dinâmico, com o pirulito. Assisti parte do capítulo da novela ou seriado Malu Mulher, a cena em que o ator Denis Carvalho deixa a casa. Regina Duarte e Narjara Turetta completam a cena dramática, antes e depois que ele sai e bate a porta. Não pude assistir o restante, por causa do horário e o barulho dos portões da garagem abrindo...
Em um final de semana, quando eu recolhia os meus brinquedos no corredor dos quartos, aonde eu brincava às vezes, enquanto meus irmãos estavam no quarto, ouvi a chamada de abertura do Programa que soube depois se chamar: O homem do sapato branco...
Era impactante, a chamada, com uma voz imponente anunciando o título: "O homem do sapato branco!"...
Minha mãe, advogada falecida no início dos anos 90, nessa época, estava na sala, de pé, ao lado do meu padrasto, ele sentado numa cadeira em frente a TV. Minha mãe achava que teríamos pesadelos, assistindo filmes ou programas que tivessem temas sobre crimes, violência, terror. Eu, já com meus pijama, de meias e sandálias de fivelas, fui até aporta aberta da sala, ver do que se tratava. Parei à porta, e estiquei meus olhos curiosos, com a minha boneca nas mãos. Minha mãe tinha os jornais O Globo e do Brasil, dobrados nas mãos, pois sempre os lia à noite. Quando me viu, deixou os jornais na mesa, séria.
- É melhor que a Jana não veja o programa. Vai ficar impressionada e ter pesadelos... É muito forte!... - Dizendo isso, veio até a minha direção. - Vá. Não é programa para criança assistir.
Lembro de ter pensado: -"Deve ser sobre crimes... Violência..."
Minha mãe abaixou o volume da TV, eu fui para o quarto, levando os meus brinquedos. Lembro do homem vestido de branco, de costas, sentado, na tela. Não lembro se era numa poltrona ou cadeira. Mais tarde soube que Jacinto Figueira Júnior o apresentava. Nunca assisti ao programa. Continuo curiosa.
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O Balé das Borboletas. Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 In Micro Musical CLP/ Roteiro para teatro/ Clube de Leitura dos Poetas/ Escrito em 11/10/2025/ Todos os direitos reservados.
O Balé das Borboletas.
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.:01233034782
In Micro Musical CLP/ Roteiro para teatro
Clube de Leitura dos Poetas
Escrito em 11/10/2025
Todos os direitos reservados.
(Inicial, resumo)
Há o azul
do céu!
Há a borboleta
azul!...
Há o verde
das matas...
Veja!
É a borboleta
verde...
Há! x 4 (tons diferentes)
Todas as cores
são... x 4 (tons diferentes)
Das borboletas!
Aonde estão?
Para onde vão?
Eu quero ver!
Eu quero olhar! x 2 (coro)
Se eu encontrar...
Se eu puder...
Se eu olhar...
A borboleta azul!... (coro)
Lá está! x 4 ( coro, tons diferentes)
É ela!
Lá está! x 2 (coro)
A Borboleta azul!
Ela tocou!
Ela pousou!
Ela está
na minha mão!
Aaah! x 4 (coro, tons diferentes)
(Trombone, arranjo)
As borboletas
ao redor
voam!
Dançam!
(Trombone,
estribilho,
piano grave,
mini orquestra).
As borboletas
estão felizes!
Na natureza
elas são como as flores!
Voam,
dançam! x 2
A borboleta azul
agora voa,
vai embora!...
Aaah! x 4 (coro, tons diferentes)
Quanta beleza!
A natureza
tem elas,
as borboletas!
Tão diferentes!
Tão importantes!
Sempre proteja
as borboletas!
Todas as cores!...
Todas as borboletas!...
São como as flores,
tendo asas para voar!
Aaah! x 4 (coro, tons alternados)
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quarta-feira, 5 de novembro de 2025
Meu irmão, Marcio Alexandre Alves de Oliveira Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 (Tributo/ homenagem) Escrito em 16/10/2025 Todos os direitos reservados
Meu irmão,
Marcio Alexandre Alves de Oliveira
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.:01233034782
(Tributo/ homenagem)
Escrito em 16/10/2025
Todos os direitos reservados
Meu irmão,
Marcio Alexandre Alves de Oliveira,
nasceu em 30 de maio de 1972,
signo de gêmeos.
Olhos castanhos, como a cor dos cabelos,
estes, na infância,
dourados.
Comunicativo, alegre,
sonhador, feliz,
sorridente, bem humorado,
prestativo, generoso,
inteligente, talentoso...
Marcio era excelente irmão,
amigo, ser humano.
Confiava facilmente
nas pessoas,
sendo até mesmo ingênuo,
muitas vezes.
Queria sempre acreditar
na bondade e sinceridade
das pessoas,
que tudo sempre daria certo,
ficaria bem,
que os seres humanos,
sem exceção,
são todos bons, amigos.
Por isso,
bastava ser apresentado para alguém
para sorrir e confiar, tratar como amigo.
Foi muitas vezes
traído, enganado,
iludido, maltratado,
agredido, decepcionado.
humilhado, pressionado,
chantageado, usado,
roubado...
Ainda assim,
não guardava ódio,
não tinha desejo de vingança
contra ninguém.
Estava sempre pronto para sorrir
e ajudar a todos.
Gostava de reunir pessoas,
de cinema, da Disney,
de literatura, Salvador Dalí
e Pablo Picasso,
na pintura.
Gostava de moda,
tecnologia, carros,
esportes,
sendo amante do futebol,
fórmula 1.
Quando jovem,
fez cursos de eletrônica,
informática, câmera man.
Formou-se,
tendo excelentes notas,
no Enem.
Aprendeu a dirigir
muito jovem,
gostava dos painéis modernos.
Marcio era um menino
no corpo de um adulto.
Um sonhador,
um trabalhador incansável,
um empresário entusiasmado.
Fez o curso de corretor
de imóveis
tendo o seu Creci.
Muito orgulhosos
por abraçar uma das profissões
da nossa mãe,
a advogada Vera Regina Alves de Oliveira,
administradora e corretora de imóveis,
falecida no início dos anos 90.
Marcio gostava de elogiar,
encontrar, ajudar, presentear
os amigos, familiares.
Era respeitador, educado,
carinhoso, afetuoso,
otimista incansável,
católico, rezando e acreditando
sempre em Deus,
na vida, nos amigos,
na felicidade.
Tinha sempre esperança.
Gostava de bolo inglês,
pãezinhos de coco,
broa de milho,
churrasco,
chouriço frito
com muito alho,
pagode, samba,
ópera e canto lírico,
orquestras e relógios de bom gosto.
Solteiro, sem filhos,
nascido no Rio de Janeiro,
carioca, brasileiro,
o caçula dos filhos.
Bonito, elegante, iluminado.
Gostava de sol e praia,
piscina, ler jornais,
revistas, livros,
dos personagens Pato Donald
e Tio patinhas,
de viagens.
Amava a mãe,
sendo órfão de pai
quando era ainda bebê.
Amava os irmãos
(Emmanoel Alves de Oliveira,
o primogênito,
04/10/1969 - 06/10/20120;
Adriana Janaína Alves de Oliveira,
pseudônimo: Adriana Janaína Poeta,
eu, 14/02/1971,
a mais velha das filhas;
Jacqueline Alves de Oliveira Mendes,
15/04/1979,
a caçula das filhas).
Marcio era fã do jogador Zico,
torcedor do flamengo.
mas assistia todos os jogos de futebol,
inclusive campeonatos internacionais.
Fez jiu-jítsu,
mas era pacífico, avesso a brigas,
violência.
Gostava de assistir telejornais,
filmes, entrevistas,
documentários, musicais.
Viajou para Bahia, São Paulo,
Flórida (EUA),
Londres, Inglaterra.
Não tinha preconceitos,
sendo amável com todos,
educado.
Respeitava a natureza,
os animais.
Faleceu em 15/10/2025,
deixando saudades,
boas lembranças,
levando o amor,
respeito, admiração,
carinho,
dos irmãos
e dos que o conheceram.
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Para sempre irmãos. Por Adriana Janaína Poeta/ CPF.:01233034782/ in O Carneiro Nº8/ Volume I/ Escrito em 20/10/2025/ Todos os direitos reservados
Para sempre irmãos.
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.:01233034782
in O Carneiro
Nº8/ Volume I
Escrito em 20/10/2025
Todos os direitos reservados
Quando digito, inserem erros gramaticais, de formatação, movem arquivos, através do sistema Wi Fi. Corrijo quando percebo.
- Quando alguém que amamos parte... - Começou a dizer Betina.
- Quando morre, você quer dizer. - Disse Catarina. As duas estavam tristes. Era o segundo irmão que partia. O primogênito, primeiro, agora o caçula dos filhos. Sobraram as duas, a mais velha das filhas e a caçula.
- Sim. - Disse Betina. - Quando alguém que amamos morre, ficamos como quem desperta em um sonho. Aquela sensação de que a realidade é isso. Um sonho. Parece que, a qualquer momento, a pessoa vai entrar por aquela porta, sorrindo.
- Eu o vi, morto. Foi duro. - Disse Catarina.
- Eu vi mamãe, depois Leonel. Mortos. Reconheci os corpos, tratei dos enterros, separei as roupas, calçados, escolhi as flores. Desta vez, preferi que você fosse ver o corpo.
- Eu sei. É muito triste... Injusto. Ele era jovem, amava a vida.
- Todos os três foram antes da hora. Podendo viver neste mundo por mais tempo. Na verdade, quem é bom, não sofre quando parte. Sente saudades de quem amava e ficou no mundo. Mas, nos encontraremos, um dia. Temos esse vínculo eterno. Com mamãe, com nossos irmãos, entre nós duas. Seremos sempre irmãos.
- Ele estava com o pescoço torto.
- Como assim?
- Pendendo para o lado direito. O corpo, a cabeça, as pernas, inchados. A língua enrolada, os lábios roxos. A mão direita estava enfaixada, quebrada. Na tarde anterior, foi ao Hospital, fez exame de sangue. A mãe estava sem machucado. Normal. Sentia-se cansado, ofegante, disse que o coração, às vezes, falhava. Teve os desmaios anteriores, queda de pressão, convulsões, insônia... Estava tomando os medicamentos prescritos pelos médicos. Esperava a ida ao cardiologista. Mas... Por que não o encaminharam das consultas direto para o cardiologista?
- Triste.
- Não tinha ninguém lá, para fazer uma sopa, revezar, para cuidar dele, com aquele monte de gente na casa, hospedado de graça e de favor.
- Eu e Ubaldo revezamos, quando Leonel adoeceu, um ano antes de adoecer novamente. O visitamos, após aquela viagem para a Paraíba. Estava abatido, muito fraco. Eu e Ubaldo o levamos para nossa casa. Eu cuidava dele durante o dia, Ubaldo, à noite. Fiz gemada, cataplasma com rodelas de cebolas cruas nas costas dele, dentro de camisa de malha, por três dias seguidos, enquanto ele dormia, na direção das costas e pulmão. Limonada forte, caldos e sopas, massagens... O rezamos, todas as duas semanas anteriores a sua ida para a Clínica para tratar a pneumonia. O visitamos durante o mês que ficou internado. Voltou para a nossa casa curado, bem. Depois, um ano após, foi internado, na mesma clínica. Já não estava morando conosco. E três meses depois, na UTI, eu e Ubaldo o visitamos todo esse tempo, ele faleceu. Desta vez, não pudemos cuidar dele antes. Todos estávamos com problemas, lembra? Financeiros. - Betina sentou-se, Catarina também.- Ele, como Euclides, amava a vida, ter amigos. Sempre tão dispostos a ajudar a todos, perdoando tudo, socorrendo a quem precisasse.
- Quando fui até lá, todos que estavam na casa dele pareciam preocupados apenas que eu, Olavo, Deuzania e seu Renan, fôssemos embora. A casa toda suja, desorganizada, cheia de gente estranha. Cada vez, chegava mais pessoas. Todos pareciam não se importar muito. Um senhor organizava o enterro. Os que o conheciam há mais tempo, estavam frios. Não parecia que o conheciam. Eu tremi, caí de joelho, assim que atravessei o portão da casa.
- Terrível, eu sei.
- Ele não estava dormindo na suíte dele. O armário, a cama, a cômoda, as roupas, calçados, perfumes... As coisas dele. Tudo o que ele escolheu.
- Sabemos que ele gostava das coisas dele. Tudo organizado, limpo, no lugar.
- Havia um colchonete fino, no chão da sala de vídeo, SM a TV, sem o ar condicionado.
- Um colchonete?
- Sim. Disseram que era ali que ele estava dormindo. Havia o travesseiro dele, um lençol fino, um cobertor fino. A moldura com a foto da formatura da mamãe, ao lado do colchonete, como alguns trilhos de crochê, que você fez para ele, a foto dele com amigas, no porta retrato, a caneca quebrada, com a foto de uma de suas viagens. Duas mudas de roupas, uma calculadora, 01 caneta... Eu havia dito para ele deixar uma garrafa com água, ao lado da cama. Não havia. No sábado ele disse que foi se arrastando para a cozinha, para fazer o soro que você disse para ele fazer.
- Se arrastando?
- Sim. Também estranhei, mas Le disse que já estava melhor, à noite. Teve câimbras nas pernas que não desinchavam.
- Meu Deus...
- Tantas pessoas na casa! Ninguém para fazer um soro, perguntar se ele queria alguma coisa... Era como se nada tivesse acontecido. Ele não estava dormindo no quarto dele. Havia dois vidros de perfume, ao lado do colchonete, no chão, dois pares de meias, um par usado. Ele estava com uma camisa de malha fina, um short de malha, que ele usava para dormir. Uma espécie de suor, líquido ou fluído, cobria o seu corpo.
- O mesmo eu percebi, quando fui com Ubaldo reconhecer o corpo de Leonel, e anos antes, o corpo da mamãe.
- O braço esquerdo estava um pouco mais seco... Só pude ver parte do corpo, estava no saco, o funcionário abriu o zíper para que eu visse. Como estava inchado, pesado, enrijecido... Durante o atendimento, a enfermeira não queria mostrar o formulário, porque disse que a "esposa" tinha levado o corpo.
- Esposa?
- Eu sei. Eu avisei: meu irmão não tinha esposa ou filhos, noiva ou namorada. Era solteiro, e não estava namorando ninguém. Teria dito se estivesse com alguém. Por fim, deixou que eu visse. A causa foi ataque cardíaco. Eu me identifiquei como irmã, mostrei os meus documentos. Adelaide assinou como se fosse esposa. Ela apenas estava hospedada na casa, como a mãe e os demais. Deixamos a sala, Olavo e eu, eu estava arrasada, me sentindo mal. Antes de sair, segurei a mão de Euclides, chorando e disse: Você não está sozinho, eu estou aqui. Rezei um pai nosso, segurando a mão dele. Estava me sentindo fraca. Dona Deuzania e seu Renan esperavam fora da sala. Perguntaram se eu queria voltar para a casa de Euclides ou ir embora. Já tínhamos ido até a casa, então decidi que era melhor ir embora. Os documentos, chaves, celular, lap top dele, não estavam lá, na casa. Ninguém soube dizer onde estava. Os documentos devem estar com Adelaide, porque é preciso para liberar o corpo, mas ela nunca foi namorada, noiva ou esposa dele, sabemos disso. Todos sabem. Você avisou, pelo telefone, que eu iria até a casa, para esperar que eu chegasse, e não esperaram. A mãe de Adelaide disse que não sabia onde estavam as chaves, documentos e celular dele. Eu não pedi a chave que estava com ela, mas ela colocou dentro da calcinha, e estava de vestido, dizendo: "Essa aqui é minha. Você não pega!" Disse: "Ainda bem que a sua irmã não veio!", se referindo a você. Eu estava me sentindo tão mal que não disse nada, não discuti, só queria ver nosso irmão, apenas isso. O senhor que estava cuidando do enterro pediu a todos que contribuíssem, e deu R$500,00 para o enterro. Eu dei R$100,00 que dona Deuzania e seu Renan me deram, sem eu pedir, porque eu não tinha nada para dar, e Olavo pediu R$300,00, emprestado, para o sobrinho. Completaram o valor com ajuda de outros, e assim foi feito. Eu separei as roupas para o enterro, mas disseram que já tinham separado outra, que ele estava gordinho, as roupas que eu separei não estavam adequadas. Havia uma sacola cheia de remédios, que ele estava tomando, que depois ficou só pela metade, estava na sala. Enquanto fui ao quarto, metade dos remédios sumiram da sacola.
- Temos que lembrar dele como era, alegre, otimista, sonhador. Saudável, gentil, carinhoso. Bom irmão, bom amigo. Agora ele está bem, com Leonel, com mamãe, com Deus, que é sempre bom. Está livre.
- Eu sei, mas meu irmão... Eu o queria vivo. Estava sem quem o amava, quando morreu. Se estivéssemos lá... Poderia estar vivo. Pelo menos não morreria sozinho. Disseram que, pela manhã, ele estava gelado. Pediu a mãe de Adelaide para fazer um soro caseiro para ele. Ela fez, ele bebeu e vomitou. Depois ele foi até a cozinha, bebeu café e comeu pão com manteiga. Não vomitou, mas pouco depois morreu. As janelas e portas da casa estavam todas fechadas, as cortinas escuras, exceto as cortinas da suíte dele, que eram as antigas, clara. Ele gostava da casa com as janelas abertas, tudo claro, bem limpo, organizado e ventilado. Gostava de tomar sol, respirar ar puro, das coisas dele, que ele comprou, escolheu. Só havia um aparelho de ar condicionado, na suíte dele, e antes havia em todos os quartos, na sala, ele comprou, lembra? Faltavam móveis. Tinha um casal com duas crianças e um jovem na suíte dele. O portão de cão que dava para a vida, torto. Deuzania me puxou, quando ainda estávamos na casa e cochichou: "Vamos embora, Catarina. O clima está pesado. Você reconhece o corpo, vamos logo." Eu não tinha tomado o café da manhã ainda. Estava me sentindo mal, já disse. Vomitei, duas vezes...
- Seremos para sempre irmãos.
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(
O sonho. Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 in O Carneiro Nº7/ Volume I Escrito em 19/10/2025 Todos os direitos reservados.
O sonho.
Por Adriana Janaína Poeta
CPF.:01233034782
in O Carneiro
Nº7/ Volume I
Escrito em 19/10/2025
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Enquanto digito, inserem erros gramaticais, de formatação, movem arquivos, através do sistema, wi fi. Corrijo quando percebo.
Erasmo deixou o chapéu, o óculos de grau, sobre a mesinha, ao lado do abajur. Começou a se despir. O telefone tocou, mas ele não olhou. Nas últimas semanas, o telefone tocava o dia inteiro.
- "Como descobriram o meu número?" - Pensou Erasmo indo, nu e descalço, para o banheiro. Olhou para as toalhas, depois entrou no Box. Ligou o chuveiro. Deixou a água, inicialmente fria, depois morna até aquecer realmente, cair sobre o seu rosto, cabelos, corpo. Ficou de olhos fechados, imóvel, cabeça erguida, enquanto a água lavava o seu corpo, por três minutos. Pegou o sabonete no suporte da parede, tateando a mão, olhos ainda fechados, até encontrá-lo. Ensaboou as mãos, depois o peito, braços, costas, o resto do corpo. Colocou um pouco de xampu na palma da mão, levou até os cabelos... Eram castanhos escuros, começavam a cair. Esfregou, enxaguou, fechou a torneira do chuveiro. Puxou uma das toalhas de banho, enrolou-se nela, pondo o pé no tapete branco, felpudo.
De frente para o armário da pia e o espelho, ficou parado, segurando a toalha, pensativo, observando o seu reflexo, até que começou a se enxugar lentamente. Refletia sobre os últimos acontecimentos. Por fim, começou a se enxugar vigorosamente, deixando a toalha sobre o mármore da pia. Passou o desodorante rapidamente, foi até o quarto, era uma suíte... Abriu o armário, foi reunindo peças de roupas, absorto, ausente. O telefone não parava de tocar...
Às vezes, retirava o cabo, e tudo ficava em silêncio. Daria um telefonema assim que estivesse vestido, por isso não retirou o cabo.
- "Por que não desistem?!..." - Pensou, sério. Já vestido, pegou a caderneta de telefone. Foi até a poltrona, ao lado de uma mesinha antiga, de madeira, aonde havia o telefone e o abajur. Sentou-se, acendeu o abajur. Começou a procurar o número do telefone da pessoa com a qual queria falar. Discou. Era aquele telefone antigo, você põe o dedo no espaço do número escolhido, um a um, gira...Faz o barulho reconfortante, conhecido. Erasmo gostava disso. Lembrava a sua infância.
- Alô?
- Vinícius?
- Sim, sou eu.
- Sou eu, Erasmo...
- Erasmo! Estava esperando que você ligasse. Por que demorou? Não deram o recado?
(Trecho)
Erasmo respirou fundo, discreta e pesadamente. Foram segundos de silêncio e reflexão.
- Só pude ligar agora.
- Estão tentando falar contigo. Como não conseguem, ligam para cá. Eu não sei o que dizer!... O que devo dizer?...
- Vinícius... Não quero falar com ninguém nesse momento.
- Mas, você sabe como funciona, Erasmo! Você é a carne, eles têm fome!...
- è por isso que eu não tenho saído ou atendido ao telefone. Quero ter tempo para pensar.
- Mas... Você já aceitou, não?
- Sim, aceitei.
- Então, não há o que pensar! Erasmo, sabe o que significa? Você agora está no topo! É a consagração da sua carreira como escritor.
- Eu já me sentia no topo, Vinícius.
- O quê?
- desde que minha obra passou a ser encenada.
-Ah...
- Minisséries, TV, teatro, citações em livros didáticos, revistas... Na boca do povo.
- Mas, você entende que há mais, não?
- Como assim?
- Quando você achava que era o limite, o máximo que poderia chegar... Reconhecimento profissional, nacional, internacional, recebe o convite. Não é qualquer oportunidade! Não é para todos! Você sabe. Você agora é eterno, Erasmo! Parabéns! Aproveite! Desfrute! Deixe que todos falem com você. Permita que te encontrem, te admirem, digam isso para você... Perguntem o que desejam perguntar! É assim que funciona.
- Vinícius, não estou confortável. Preciso de tempo para me acostumar. Mais tempo.
- Tempo? Tempo, Erasmo?...
- Sim. Sou assim. Devagar. Não sabia? Acho que eu sou um cara que traz a solidão, a calma, do sertão, dentro de mim... Estou na cidade, ando pelo asfalto, entre os prédios, carros... Mas, o sujeito tosco e quieto, vive dentro de mim, encolhido. Um menino, descalço, que só quer olhar para as árvores, flores, céu azul, tudo conhecido e bom. Você não entende! Não pode entender... Você tem esse sujeito, tosco, natural, dentro de você? saberia, se tivesse? Ele as vezes olha para mim e pergunta:" Quando vamos voltar a ser livres, Erasmo? Quero pisar na terra e correr, com meus pés descalços! Quero sentir o cheiro e o sol do sertão! Vamos, Erasmo!... Vamos!...
Risos do outro lado do telefone.
- Erasmo... Não diga essas coisas, escreva!
- Isso eu não escrevo.
- Por que não?
- estou aprendendo ainda a ouvir.
-O quê?
- É coisa minha.
- parece loucura!...
- Só parece.
- Mas... Do que tem receio, Erasmo? Eles te amam!
- Eles dizem que amam?
- eles não dizem, mostram!
- Como?
- Comprando, lendo, comentando, citando os seus livros. Assistindo, encenando... Estão adorando tudo o que você escreve. Lendo tudo sobre você, os seus personagens... Amam a sua obra! Amam você!
- Eles amam? Não sei.
- Como não sabe? Tem gente que faria tudo para estar onde você está. No topo!
- Eu tive um sonho...
- Um sonho?
- Antes de aceitar. Assim que recebi o convite.
- Que sonho?
- Já falei contigo sobre isso. Você não lembra porque não presta atenção no que digo.
- Conte.
- Sonhei que morria.
- Morria?
- Depois de aceitar o convite. Por isso demorei tanto a aceitar.
- Você sonhou... Por isso está assim?... - Risos. - Você é um cara estranho, Erasmo! Era só um sonho!
- Não sei...
- Eu não lembro dos meus sonhos. Ainda bem.
- Eu tenho e lembro dos meus sonhos, sempre. Alguns se concretizam.
- Você viverá muito!
- Não sei...
- Bom, já é terno, não?!... - Risos.
- Você acha engraçado, porque não é com você!
- Atenda aos telefonemas. Saia de casa. Fale com todos.
- Vou pensar.
- Não pense, Erasmo! Aproveite o momento.
- Preciso desligar.
- Desligue, mas não tire o cabo. Sei que faz isso.
- Vou pensar.
- Ai, ai, ai... Erasmo! Até logo...
- Até logo? Adeus!
- Pare com isso. Você agora é eterno!
Uma semana depois, todos os jornais, telejornais, rádio, internet, davam a notícia da morte do escritor Erasmo Aquino Freitas. Vinícius abriu o jornal, preocupado ao ler a notícia. Estava na sala de estar com a esposa que fazia crochê, ao lado da filha de dez anos.
- O que foi? - Indagou Iara, percebendo a expressão do marido.
- Erasmo morreu!...
- O quê?
- E ele sonhou que morreria...
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