terça-feira, 4 de novembro de 2025

A tempestade Por adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 In O Carneiro Nº6/ Volume I Clube de Leitura dos Poetas Escrito em 18/10/2025 Todos os direitos reservados

A tempestade. Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 In O Carneiro Nº6/ Volume I Clube de Leitura dos Poetas Escrito em 18/10/2025 Todos os direitos reservados Enquanto eu digito, invadem o sistema e wi fi, inserindo erros gramaticais e de formatação, movendo arquivos. Corrijo, quando percebo) Ênio pegou o maço de cigarros, novo, fechado, em cima da cômoda, no quarto onde dormia, anexo à casa da filha caçula, onde morava com a esposa e os filhos. Abriu o maço, puxou um cigarro, buscou o isqueiro no bolso, acendeu o cigarro. Depois segurou o jornal do dia, que a neta mais velha trouxe, comprado pela mãe, filha de Ênio. Foi sentar-se na cadeira, na área de serviço, em frente ao quarto anexo, construído para ele. Trovoadas, raios, ventos, furiosos, anunciavam uma tempestade a caminho. Dobrou os jornais para ler sem que o vento arrastasse tudo na sua passagem. A área de serviço era coberta por telhado bem estruturado, telhas grossas de amianto, aparafusadas em toras de madeira, com armação bem feita. Havia o sótão, que o primogênito, seu neto, usava para guardar livros, gibis, revistas, a caixa de madeira com as peças de xadrez, a coleção de canetas tinteiro, iniciada, gravuras, anotações e outros itens pessoais. Ali, o primogênito lia, refletia, sossegado, com total privacidade. Sob o telhado ficava as caixas d'água, parte da fiação, encanamento. A casa tinha excelente estrutura, como a maioria das demais, no residencial. Havia uma grande praça central, padaria, uma pequena lanchonete, uma pedreira aos fundos. Ficava próximo a uma escola pública, com acesso a farta condução. Ênio era aposentado, morava há alguns anos com a filha caçula, Fabiana, casada, com filhos. A neta mais velha, Leopoldina, era quem cuidava da casa, dos irmãos e dele, enquanto a mãe trabalhava. Leopoldina conhecia todos os hábitos, seguidos, religiosamente, por Ênio. Tomava banho, uma vez por semana. Era preciso deixar o chuveiro, água morna, aberto. Uma cadeira de madeira ficava dentro do boxe.Duas toalhas de banho, 01 de rosto, limpas, dobradas, sob o mármore do balcão da pia. Xampu, saboneteira com o sabonete, aberta, dentro do boxe, de uso exclusivo de Ênio. Uma garrafa de álcool forte, líquido, nova, junto a pia, com o pente, preto, de plástico, a calça de tecido, zíper e botão, o par de meios finas, uma camiseta de malha, em geral, branca, 1 cueca samba canção de seda, 01 blusa de tecido, botões, gola, tudo limpo, passado e bem dobrado, sobre o mármore. Ênio ia até o banheiro estando tudo já organizado, pronto para o seu banho. Entrava, fechava a porta, usando o trinco interno. Tomava o banho. Secava o corpo, despejava o álcool, do pescoço para baixo. Vestia-se, calçava as meias, depois os sapatos. Não usava sandálias. Penteava os cabelos. Colocava a toalha de rosto, seca e limpa ao pescoço. Deixava o banheiro. Voltava para o quarto, para assistir TV, ou ouvir algo no rádio de pilha. Às vezes lia um livro ou os jornais. Leopoldina entrava no banheiro, depois que o avô saía dele. Recolhia as roupas e toalhas sujas, usadas, deixava para o cesto de roupas sujas. Levava para a área de serviço. A mãe, Fabiana lavava e passava as roupas do pai, no final de semana. Fazia questão. Leopoldina voltava para o banheiro, retirava a cadeira, enxugava a cadeira, colocava no lugar. Recolhia e guardava o xampu, sabonete, saboneteira, o pente de plástico preto. Limpava o banheiro, descartava o recipiente vazio de álcool. Para cada semana, havia um frasco novo. Leopoldina sempre deixava a tampa fácil para o avô abrir, mas não suficiente para derramar, caso caísse no chão. Ênio fazia barba e cortava as unhas, dos pés e das mãos, uma vez na semana, dia diferente do dia do banho ou de aparar a barba. Havia um dia para aparar a barba, outro, o seguinte, para fazer a barba, com espuma e barbeador. Aparava a barba com tesoura média, bem afiada. Cortava as unhas com tesoura pequena, bem afiada. Fazia a barba com espuma e o aparelho tradicional, antigo, de metal, duas peças, unidas com enroscamento, tendo uma gilete sempre nova, encaixada. Era Leopoldina quem arrumava tudo, junto com uma toalha de banho e outra de rosto, limpas, no dia de fazer a barba, embaixo do aparelho já com a gilete nova, a espuma, a saboneteira e o sabonete. Um espelho pequeno ficava pendurado à parede, com moldura de madeira. Ênio gostava de ficar observando, no espelho, enquanto aparava ou fazia a própria barba. Depois, voltava para o quarto, e Leopoldina organizava tudo. Às vezes, Ênio escrevia as suas memórias, em cadernos ou sob páginas em branco de livros que lia. Datava e assinava. Eram lembranças da infância, da mãe, da adolescência, na maior parte. Ênio tomava água retirada apenas da sua moringa. Leopoldina lavava e enchia, diariamente, duas vezes ao dia, com água filtrada no filtro de barro, a moringa do avô. O filtro de barro era o que toda a família usava, ficava na cozinha. A moringa era deixada no quarto, com um copo sempre limpo, de vidro. O avô não bebia nada gelado. Tomava o café da manhã às 11 horas, hábito seu, embora acordasse e dormisse cedo. Leopoldina preparava: meia bisnaga de pão de sal fresco, ou aquecido, uma camada de manteiga com sal numa banda, uma camada de requeijão na outra banda. Cotava em quatro, na vertical. Colocava no prato de louça, grande. Fervia o leite, colocava no copo, grande, pingava o café, adoçava. O avô dificilmente aceitava comer frutas, às vezes bebia vitaminas (leite e açúcar, mamão, banana, abacate...). Bolo, salada de frutas, pudim, também era preciso perguntar antes de servir. Sorvetes, picolés, o avô recusava. Evitava gelados. Leopoldina colocava na bandeja e levava para o avô, no quarto. Às 16 horas, o avô almoçava. Se Leopoldina tivesse que estar fora de casa, neste horário, o irmão primogênito era o encarregado de servir o avô. Leopoldina deixava tudo pronto, bastava aquecer. Ênio não jantava, dizia que se jantasse, morreria mais cedo. O almoço era bem servido: carne, arroz ou massa, feijão bem temperado, legumes ou salada. De vez em quando, Leopoldina incluía, com a carne, ovos fritos ou cozidos, estes partidos ao meio, ou bolinhos (batata, carne moída, vagem...). Deixava os talheres arrumados, com guardanapo de papel, ao lado do prato. Se ele aceitasse uma vitamina, suco, refrigerante, refresco, levava também na bandeja, em um copo grande. Ele deixaria um tempo à parte, até que não estivesse gelado, para beber. Era Leopoldina quem lembrava o avô de tomar os comprimidos (vitaminas, complexo B, Levedura de cerveja, vitamina C...), deixar o maço de cigarros novo, 01 por dia, no quarto, sob a cômoda. Leopoldina verificava se ainda havia analgésico, o isqueiro com carga ou a caixa de fósforos, esvaziava e limpava o cinzeiro, arrumava a cama, trocava os lençóis e fronhas, retirava os jornais velhos, trazia os novos. Um dia, Ênio leu no jornal ou ouviu no rádio, na TV, que vinho do porto fazia bem, ajudava na longevidade. Então, pediu a Fabiana para comprar. Todos os dias, com o almoço, havia um pequeno cálice com vinho do porto, guardado no armário da cozinha, exclusivamente para ele. Até que um dia, Ênio disse que não precisava mais comprar o vinho do Porto. Não explicou o motivo. É importante ressaltar que no dia de fazer a barba, Ênio não almoçava, também não jantava, só tomava o café com leite, pão requeijão e manteiga, um suco ou vitamina, refresco ou refrigerante, às 16 horas. À noite sempre aceitava um copo grande com café puro adoçado. Apesar disso, o avô era uma pessoa com hábitos simples: tomava sol todos os dias, sentado na cadeira, entre a área de serviço coberta e o anexo, os seu quarto. Lia jornais, livros, fazia algumas anotações, ouvia o rádio, assistia TV. Se estava bem humorado, conversava com os netos, a filha. Certa vez Leopoldina perguntou por que não almoçava quando fazia a barba. - Para não morrer cedo. - Por quê? - Pode passar um vento encanado. O vento encanado era uma frase muito ouvida entre os mais velhos da família. A vó materna, as tias, a mãe de Leopoldina, como o avô, costumavam repetir, mencionar, freqüentemente. Com o tempo, Leopoldina descobriu o que era, uma maneira de representar um mal inesperado, misterioso por isso. Ênio era muito inteligente, leitor fervoroso, falava sobre qualquer assunto, quando queria. Em geral Leopoldina cuidava da organização e limpeza da cama, das refeições, dos irmãos. Sempre indicava novas leituras para o avô, já que também era ávida leitora, como o irmão primogênito e a mãe. A mãe e o primogênito estavam sempre comprando livros. Ênio tinha toda a liberdade para buscar novos livros na sala. Gostava de ficar no sue quarto, lendo, ouvindo o rádio, assistindo TV ou na cadeira, na área de serviço, em frente ao quarto, bem arejada. Naquele final de tarde, quando Ênio sentou-se na cadeira, na are a de serviço, com o jornal na mão, o cigarro na boca, o céu mostrava nuvens estranhas, que pareciam se contorcer, apressadas, em tons de negro, grafite, com muitos trovões e raios. Estava claro que a tempestade seria forte, incomum. - Pai, é melhor colocar o carro na garagem. - Disse a filha caçula, Augusta, de pé, perto do portão gradeado, aberto, social. O pai, de pé, perto dos degraus que davam para o portão, olhava sério, para o céu, enegrecido. - Pai, coloque o carro na garagem. - Repetiu a filha caçula, enfaticamente, pressentindo algo. Não sabia ao certo o que era. O pai, Fabrício, foi buscar as chaves na mesa da sala, apressado. A filha abriu os portões da garagem, o pai guardou o carro. Depois, entrou com a filha, foram para a sala, assistir TV. Os primeiros pingos, grossos e quentes, da chuva, começaram a cair, ruidosos. Os irmãos de Leopoldina entraram na casa, apressados, ela também. A mãe estava sentada na sala, em frente à TV, no sofá concha, forrado com tecido floral, fundo verde claro, acetinado, que ela escolhera. A chuva desabou violenta, com ventos fortes, até que puderam ouvir uma espécie de explosão, no telhado, após um clarão que iluminou toda a casa. A luz acabou parte do teto foi danificado, com fendas e rachaduras deixando cair a água da chuva e de uma das caixas d'água quebradas com o impacto das telhas e toras de madeira quebradas e caídas. Móveis, roupas, alimentos, eletro/eletrônicos foram perdidos. - Ai!... - Gritou Ênio, gemendo, na área de serviço. Todos correram para lá. Ao contrário da casa, do quarto anexo, a área só tinha a armação e toras de madeira, com as telhas de amianto caneladas, bem estruturadas, mas que não suportou a explosão. As telhas foram quebradas, algumas toras e parte da armação de madeira, caindo sobre a área onde estava Ênio. O avô estava caído debaixo das telhas e toras partidas, gemendo. Fabrício retirou o que estava sobre ele, com a ajuda de todos, enquanto a chuva desabava sobre todos. Depois Fabrício pegou no colo Ênio, e foi levando para o carro, Fabiana abrindo a porta detrás. O telhado sobre a garagem estava intacto. Uma das toras do telhado, inteira, estava caída na frente da casa, na calçada, no lugar onde antes estava o carro. Os netos foram abrir os portões, Leopoldina trouxe cobertores, toalhas e entregou para a mãe. Fabrício, Fabiana e o avô foram para o hospital. A chuva descia pelas paredes e fendas na cozinha e na sala, na área de serviço. A tempestade durou cerca de quarenta minutos. Arrancou árvore, destruiu telhados, até que ficou tudo calmo, a chuva parou. ----------------------

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Parte Por Adriana Janaína Poeta CPF.:01233034782 in O Carneiro Nº 5/ Volume I Conto/ ficção Todos os direitos reservados. Escrito em 18/10/2025

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